COITADINHO DO MEU ASSASSINO…

Radioclip en texto sin audio grabado.

Um novo recital do inesquecível Facundo Cabral…

Não nos resignamos. Assassinaram Facundo Cabral, amigo do mundo, mensageiro da paz, um revolucionário dos imprescindíveis. E não nos resignamos a deixar de ouvir sua voz, suas canções, seu bom humor.

Ontem, acabando de enviar o radioclip, nos chegou um texto de outro vagabundo da canção, o equatoriano Jaime Guevara. E queremos compartilhar com vocês, radialistas apaixonados e apaixonadas pela justiça.

Também enviamos outro recital de Facundo Cabral. Baixem daqui e o programem em suas emissoras.

Equipe RADIALISTAS

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Coitadinho do meu assassino

Uma chuva de cristais partidos e balas foi disparada da tela, direto no fundo do coração. Facundo, o eterno transumante, o poeta idealista do Jesus generoso a quem seus versos souberam manter, como corresponde, bem longe da máfia do Vaticano; o sátiro que penetrava com o bisturi de sua ironia a couraça dos poderosos. Sim, ele mesmo que entregava flores a borbotões nas mãos de damas inalcançáveis ou fadas maravilhosas entre o perfume da cozinha e a raiva da Madalena, tinha sido assassinado.

A notícia

Baleado entre fuzis de calibre militar ou fogo mafioso (estou redundando?), Facundo Cabral foi tristemente batizado em sangue. Ontem, sábado 9 de julho de 2011, na Guatemala da exemplar Rigoberta Menchú e seus sábios ancestrais, mas também na Guatemala do “pastor cristão" e ditador assassino Efraín Ríos Mont, o errante bardo caiu ante o ódio dos intolerantes. Outro abandeirado da paz mundial era submetido à injustiça do chumbo atroz que não conhece melhor argumento que o disparo vil e rasteiro. Assim Facundo, o nativo de Tandil, pequena localidade argentina, se unia no sangue com Mahatma Gandhi, Martin Luther King e Arnulfo Romero.

Invencível

Há tempos, Facundo juntava sua dor a de trovadores como Joe Hill, Víctor Jara e John Lenon. Não era "nem daqui nem de lá" e isso o agrupava entre as vozes truncadas, entre as penas quebradas e entre as violas remendadas de tantos de seus colegas.

Não tinha fronteiras nem visto que detivessem a potência de sua arte. Festejo? Sem dúvida, neste exato momento, em alguma toca de fina estirpe ou quebrada miserável haverão garrafas abrindo-se pelo "êxito da missão". Haverá dólares trocando de garras cobertas de joias a patas salpicadas de sangue e pólvora. Haverá comentários caninos sobre "esse gritador chato que já vinha enchendo faz tempo". Inútil ritual.

"Morte, onde está tua vitória?"

Fracassou a morte frente o poder avassalador do canto de Facundo. "Coitadinho do meu assassino… pensa que o morto sou eu!", teria que dizer parafraseando um de seus mais conhecidos refrões. Quantas rajadas ou tiros de canhão bastarão para deter o caudal de sua garganta, a delicadeza de sua ironia, o sorriso de seus comentários burlescos? Nunca farão o suficiente para sepultar suas canções. E entoadas por algum intérprete perito do cenário custoso, ou cantaroladas por um rapaz e seus amigos na esquina do bairro, as palavras, a música e as verdades de Facundo Cabral permanecerão vivas sem tempo nem fronteiras que as limitem. Facundo, dizem que você está "morto" mas continuamos te ouvindo! Aquele abraço!

Saúde, canção e Anarquia!

Jaime Guevara