CUCHILLA MARIPOSA

Radioclip en texto sin audio grabado.

Aqui não há criação, mas reprodução, perpetuação de uma guerra

Hip Hop feminino? Vozes da rua? Denuncia feita canção? Tudo isso é Cuchilla Mariposa, um duo formado pelas equatorianas Andrea Murillo e Andrea Aguirre. Através da música, do hip hop, elas nos contam histórias de sua própria experiência, de vida cotidiana e do trabalho que realizam com mulheres internas do presídio de Quito. Aqui vai um de seus demos.

Anime-se! Faça um especial em tua rádio com este material. Outro demo de Cuchilla Mariposa você encontra na Radioteca.net


CANÇÃO 1

Homem ou mulher, isso define qual vai ser teu papel
dentro deste círculo vicioso doloroso.
Por que tua inteligência deve ser a minha estupidez?
Por que tua fortaleza é a minha debilidade?

Complementários no uso, o abuso, a violência…
Para que tu penetres devo ser eu penetrada,
para que tu bata devo ser eu a espancada.
Tonta, submissa, bonita, complacente…
E tu? E tu que dá uma de grande estrategista,
calcula o abuso, tua violência nesta guerra…

Te achas deus criador,
Enquanto eu cumpro meu papel,
ah! de mulher.
Me martirizo, me vitimizo,
limpo, lavo, crio os teus filhos.

Aqui não ha criação, mas reprodução,
perpetuação de uma guerra,
suas mortas, seus feridos.
A violência, estados de sítio,
guerra de posições…
Bem adestrados aprendemos
seu funcionamento quase milimétrico
Geração após geração,
geração após geração,
geração após geração.

Sente asfixia,
cataclismos de uma guerra se aproximam.
Juraria que a tua guerra é pessoal,
mas é uma guerra social.

Todos nós, peças de engrenagens.
Cada gesto teu ao serviço de uma guerra que não é nossa,
a serviço de uma máquina social que nos supera,
nos constrói, nos gera.
Em um mesmo instante, teu punho que se cerra,
outro pênis que penetra,
outras mãos que estrangulam ajustando as polias, os parafusos,
e mais lágrimas lubrificam as dobradiças.

Equilibrismos procurando a cada instante
Sustentar a maquinaria,
um fragmento de pele arroxeada,
umas mãos femininas
que maquiam as feridas.
E meus medos fio terra
para que não entre em curto a máquina de guerra.
Um nó na garganta é uma mola,
quanto mais pressão, mais intensidade para voltar a começar.

Aqui não ha criação, mas reprodução,
perpetuação de uma guerra,
suas mortas, seus feridos.
A violência, estados de sítio,
guerra de posições…
Bem adestrados aprendemos
seu funcionamento quase milimétrico
Geração após geração,
geração após geração,
geração após geração

COLABORAÇÃO
Andrea Murillo e Andrea Aguirre, Quito, Equador.