MONOLÓGOS A VAGINA

Radioclip en texto sin audio grabado.

Um texto de a escritora y atriz norte-americana Eve Ensler.

Monólogos da Vagina é uma obra escrita pela feminista estadunidense Eve Ensler.

Para escrever o texto, Eve entrevistou mais de 200 mulheres sobre o sexo, as relações amorosas e a violência doméstica.

Monólogos da Vagina estreou em outubro 1996 em Nova York. A própria Eve Ensler atuava dando vida a uma dezena de mulheres que relatavam suas historias.
Eve Ensler declarou que o propósito da obra é converter-se em um movimento contra a violência de gênero. Entre na página www.vday.org
Aqui enviamos o texto da introdução e o primeiro dos Monólogos. Veja se você encontra essa obra em DVD esta obra. Ou a procure na Internet. É ótima e limpará uns tantos preconceitos da nossa cabeça.

INTRODUÇÃO

“Vagina". Pronto, já disse. "Vagina"… torno a dizer. Estive dizendo essa palavra uma e outra vez durante os últimos três anos. Disse nos teatros, nas universidades, nas salas de estar, nas cafeterias, nas cenas, em programas radiofônicos de todo o país. A diria na televisão se alguém me deixasse fazêlo. A digo 128 vezes a cada noite que interpreto minha obra, Monólogos da vagina, baseada em entrevistas realizadas com um grupo variado de mais de duzentas mulheres que falam sobre suas vaginas. Digo a palavra em sonhos. A digo porque se supõe que não devo dizê-la. A digo porque é uma palavra invisível… uma palavra que suscita ansiedade, incômodo, desprezo e asco.

A digo porque creio que não dizemos aquilo que não vemos, não reconhecemos ou não recordamos. Aquilo que não dizemos se converte em um segredo, e os segredos amiúde criam vergonha, medo e mitos. A digo porque quero sentir-me cômoda algum dia dizendo-a, não envergonhada e culpada.

A digo porque não cunhamos uma palavra mais ampla e envolvente, que realmente descreva a zona intera e todas suas partes. “Xota” – ou “xoxota” provavelmente seja a melhor palavra, mas se associa com demasiadas coisas. Além disso, não acho que a maioria de nós tenha uma idéia clara de que nos referimos quando dizemos “xoxota”. “Vulva” é uma boa palavra; é mais específica, mas não acho que a maioria tenha claro o que inclui a vulva.

Digo “vagina” porque quando comecei a dizer esta palavra descobri quão fragmentada eu estava, como o meu corpo estava desconectado da minha mente. Minha vagina era algo que estava ali, à distância. Raras vezes habitava nela, ou sequer a visitava. Estava ocupada trabalhando, escrevendo; sendo mãe, sendo amiga. Não via a minha vagina como meu recurso primário, como um lugar de sustento, humor e criatividade. Era um lugar inquietante, cheio de medo. Haviam me violado quando criança, e embora tivesse crescido e feito todas as coisas que uma adulta faz com sua vagina, nunca havia voltado a adentrar-me realmente nessa parte de meu corpo depois de ter sido violada. Vivi basicamente a maior parte de minha vida sem meu motor, meu centro, meu segundo coração.

Digo “vagina” porque quero que as pessoas reajam, e o fizeram. Tentaram censurar essa palavra em todos os lugares onde viajei com a obra Monólogos da Vagina e em todas as modalidades de comunicação: nos anúncios de jornais importantes, nas entradas a venta em grandes lojas, nos letreiros das fachadas dos teatros, nos serviços de venda telefônica de localidades onde a voz gravada somente se referia à obra como “Monólogos” ou “Monólogos da v”.

― Por que acontece isso? ―pergunto―. “Vagina” não é uma palavra pornográfica; de fato, é uma palavra médica, u termo para referir-se a uma parte do corpo, como “cotovelo”, “mão” ou “costela”.

― Tudo bem que não seja pornográfica ― dizem as pessoas ―, mas é uma palavra feia. E se nossas filhinhas a ouvissem? Então, o que diríamos?

― Poderia dizer-lhes que elas têm uma vagina ― respondo ―. Se é que já não sabem. Ao menos poderia celebrar isso.

― Mas não chamamos as suas vaginas de “vaginas” ― me dizem.

― Como as chamam? ―lhes pergunto.

E me dizem: “rãzinha”, “passarinha”, “florzinha”, “buraquinho”… e a lista continua, interminável.

Digo “vagina” porque li as estatísticas, e estão acontecendo coisas ruins com as vaginas das mulheres em todo lugar: 500 mil mulheres são violadas todos os anos nos Estados Unidos; 100 milhões de mulheres foram mutiladas genitalmente em todo o mundo; e a lista continua e continua. Digo “vagina” porque quero que se ponha fim a estes horrores. Sei que não deixaram de ocorrer até que reconheçamos que ocorrem, e a única maneira de consegui-lo é capacitar às mulheres para que se atrevam a falar disso sem temor de sofrer castigo ou ser objeto de vingança.

Dá medo dizer a palavra. “Vagina”. No começo, você tem a sensação de estar atravessando violentamente uma barreira invisível. “Vagina”. Você se sente culpada e incômoda, como se alguém fosse derrubá-la com um só golpe. Então, depois de ter dito a palavra cem ou mil vezes, percebe que é “tua” palavra, “teu” corpo, “teu” lugar mais essencial. De repente, percebe que toda a vergonha e o incômodo que sentia até então ao dizer a palavra foi uma forma de silenciar teu desejo, de minar tua ambição.

Então, começa a dizer a palavra mais e mais. A diz quase com paixão, com apreço, porque intui que se deixar de dizê-la, o medo voltará a apoderar-se de ti e cairá de novo em um sussurro incômodo. De maneira que a dizes em qualquer lugar em que puder, a coloca em todas as conversas.

Está fascinada com tua vagina; quer estudá-la e explorá-la e apresentar-se a ela, e descobrir como escutá-la e dar-lhe prazer e mantê-la sã, sábia e forte. Aprende a satisfazer-te a ti mesma e ensina a teu amante a satisfazer-te.

É consciente de tua vagina todo o dia, onde quer que esteja… no teu carro, no supermercado, na ginástica, no escritório. É consciente desta parte preciosa, belíssima, portadora de vida que você tem entre as pernas, e isso te faz sorrir; te dá orgulho.

E quantas mulheres mais dizem a palavra, cada vez se torna menos transcendente dizê-la; passa a formar parte de nossa linguagem, de nossa vida. Integramos nela nossas vaginas, que passam a ser algo venerável e sagrado. Convertem-se em parte de nossos corpos, conectadas com nossas mentes, alimentam nossos espíritos. E a vergonha desaparece e as violações cessam porque as vaginas são visíveis e reais, e estão conectadas com mulheres poderosas, sábias, que falam de suas vaginas.

Uma longa viagem nos espera. Este é o princípio. É um espaço para pensar em nossas vaginas, para começar a conhecer as vaginas de outras mulheres, para escutar suas histórias e entrevistas, para responder questões e fazer perguntas. Um lugar para desprender-nos dos mitos, a vergonha e os medos. Para exercitar-nos no uso da palavra porque, como é sabido, a palavra nos move e nos liberta. “Vagina”.

BIBLIOGRAFÍA
Eve Ensler, Os Monólogos da Vagina, Europa-América, Portugal.