O DIA EM QUE MÉXICO LEGALIZOU AS DROGAS

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Quantas mortes haveríamos evitado com a legalização da maconha?

DOUTOR Fume um… Tranquilo, não lhe fará nada… E você também…

EFEITO FÓSFORO E TRAGADA

LOCUTORA Em 1938, o doutor Leopoldo Salazar Viniegra, diretor do Departamento de Salubridade do México, repartiu cigarros de maconha entre seus colegas…

DOUTOR Notam algum efeito especial?

ENFERMEIRA Na verdade não… alguma sequidão na boca…

DOUTOR Ninguém que fumou maconha se levantou de seu assento com intenções de matar a alguém, não é mesmo?

LOCUTORA O experimento do doutor Salazar Viniegra ia contra a opinião generalizada que considerava o fumo da maconha como instigador de crimes e atos depravados.

DOUTOR Mentiras, simples mentiras difundidas por alguns empresários.

CONTROLE MÚSICA DE TRANSIÇÃO

LOCUTORA Um ano antes, em 1937, o governo norte-americano tinha declarado a maconha ilegal.

LOCUTOR Esta proibição tinha sido um triunfo do empresário Randolph Hearst, dono da maior industria de papel de celulose.

LOCUTORA Hearst precisava eliminar a concorrência do papel feito de cânhamo, de maconha.

LOCUTOR Através de seus jornais sensacionalistas, Hearst lançou uma feroz campanha culpando a maconha dos crimes mais horríveis.

LOCUTORA Com a proibição, as empresas de Hearst floresceram.

LOCUTOR E o que mais floresceu… foram as máfias.

CONTROL MÚSICA MEXICANA

LOCUTORA No México, o governo do presidente Lázaro Cárdenas começou a enfrentar um problema social muito grave pela proibição das drogas.

LOCUTOR O consumo não havia diminuído em absoluto. E o que aumentava, dia a dia, era o narcotráfico.

DOUTOR Presidente Cárdenas, o senhor tem que enfrentar o problema das drogas.

CÁRDENAS Diga-me como, doutor Salazar Viniegra.

DOUTOR Pela via policial não se conseguirá nada. Os viciados são doentes, não são delinquentes.

CÁRDENAS E qual é a sua proposta, doutor?

DOUTOR Tenho a solução, senhor presidente.

LOCUTORA Em 17 de fevereiro de 1940 o governo mexicano decretou uma medida revolucionária para enfrentar o problema das drogas: legalizá-las.

DOUTOR A partir de agora, o Estado terá o monopólio da venda de drogas proibidas. O cultivo será legal e cobraremos um imposto aos agricultores, como fazemos com o tabaco. Quem consome poderá comprar as drogas a seu verdadeiro preço nas farmácias. Assim não comprarão dos narcotraficantes a preços exorbitantes, o que gera todo tipo de violência social.

LOCUTOR O doutor Salazar Viniegra era um respeitado pesquisador médico, diretor do Departamento de Salubridade Pública do México.

GRINGO Esse?… Esse não é mais que um charlatão, um viciado…

LOCUTORA Washington considerou o decreto do presidente Cárdenas, promovido pelo doutor Salazar Viniegra, como um perigo para os interesses dos Estados Unidos.

LOCUTOR E começou a pressionar o governo mexicano para que o doutor Viniegra fosse removido de seu cargo.

LOCUTORA A verdade era que a proibição da maconha havia disparado os preços.

LOCUTOR Com a legalização, acabava o negócio dos narcotraficantes mexicanos.

LOCUTORA E, sobretudo, acabava o negócio dos banqueiros gringos que lavavam o dinheiro sujo da droga.

LOCUTOR Washington chantageou, subornou, consegui impor um embargo de medicamentos contra o México.

LOCUTORA Tantas foram as pressões que em 3 de julho de 1940, menos de cinco meses depois do decreto, o governo mexicano teve que destituir o doutor Salazar Viniegra e voltar à proibição da maconha e de todas as drogas.

GRINGO Negócio é negócio, my friends.

LOCUTORA E foi assim que o negócio mais repugnante da história, o que causou mais doentes, mortos e encarcerados, mais que qualquer guerra, o negócio que destruiu as sociedades latino-americanas para enriquecer aos bancos gringos, continuou prosperando até o dia de hoje.

LOCUTORA Setenta anos mais tarde, com ruas mexicanas banhadas de sangue e cidades inteiras tomadas pelo narcotráfico, vale a pena pensar em tudo o que a legalização proposta por Lázaro Cárdenas teria evitado. Na montanha de mortos que teríamos poupado.

BIBLIOGRAFÍA
Juan Alberto Cedillo, La Cosa Nostra en México, Grijalbo Mondadori, México 2011.