PROLETÁRIOS E PROLETÁRIAS DO MUNDO…

Radioclip en texto sin audio grabado.

Flora Tristán, socialista, feminista, precursora da Primeira Internacional.

LOCUTORA Sua mãe a havia acalentado com histórias fabulosas do Peru. Falava também de Simon Bolívar, o grande libertador da América, muito amigo da família Tristán.

LOCUTOR Seus pais tinham se casado na igreja na Espanha. Depois foram viver na França. Segundo as leis francesas, que só reconheciam o compromisso civil, a pequena Flora não era legítima.

LOCUTORA Com a morte de seu pai, o coronel Mariano Tristán, a família foi viver em um bairro miserável de Paris.

LOCUTOR Com 17 anos, Flora Tristán foi trabalhar em uma oficina de litografia. O proprietário, André Chazal, interessou-se pela jovem peruana e casou-se com ela.

LOCUTOR Logo vieram os filhos e os problemas. André era mau patrão no trabalho e pior patrão em casa.

FRANCÊS Mas, quem você pensa que é?… Uma estrangeira, uma pária!

LOCUTORA Flora partiu para a Inglaterra para trabalhar como empregada doméstica. De regresso à Paris, continuaram os maus-tratos do marido.

LOCUTOR Sem dinheiro para criar seus filhos, Flora decidiu viajar ao Peru. Foi cobrar a herança de seu pai.

CONTROLESICA PERUANA

LOCUTORA Seu tio, irmão do coronel Tristán, era um dos homens mais ricos de Arequipa. Recebeu de braços abertos à prima de Paris. Mas quando Flora reclamou a herança…

VELHO (CÍNICO) Florinha, entenda, você não é legítima. Não tem parte alguma na herança.

FLORA Como que não? Meus pais se casaram na Espanha.

VELHO Mas na França isso não conta. E você nasceu em Paris, você é francesa.

FLORA É a herança do meu pai e me é de direito.

VELHO Florinha, juridicamente você é… uma bastarda.

FLORA E o senhor, juridicamente, é um sem-vergonha

CONTROLE GOLPE MUSICAL

LOCUTORA Indignada, Flora Tristán regressou a Europa.

FLORA Na França me recusam por ser peruana. E no Peru, por ser francesa. Eu não sou nada, sou uma pária.

LOCUTOR Aquela humilhação marcou sua vida. Se Bolívar se rebelava contra a tirania do império espanhol, ela se rebelaria contra uma opressão mais antiga, a dos homens sobre as mulheres.

FLORA Não pode haver emancipação dos povos sem emancipação das mulheres.

LOCUTORA Voltou a Paris para ganhar algum dinheiro e ocupar-se de sua filha Alina. Dedicou-se a escrever e teve êxito. Peregrinações de uma Pária, seu diário de viagem, foi o primeiro livro. Escreveu sobre as imigrantes, o divórcio e os direitos dos trabalhadores.

LOCUTOR Mas André Chazal não a deixava em paz. Se não podia ter a Flora, podia fazê-la sofrer. Alina já era uma adolescente.

FLORA André, você é o pai dela. Como te atreves a…?

FRANCÊS Com minha filha faço o que quero. E contigo também.

FLORA Asqueroso!… Te meterei na prisão!

LOCUTORA Flora Tristán denunciou seu marido ante os tribunais. André Chazal comprou duas pistolas e a esperou na Rua de Bac, perto de Montmartre.

EFEITO TIROS E TUMULTO

LOCUTORA Flora esteve entre a vida e a morte. Durante sua recuperação continuou escrevendo. Suas obras vendiam como pão nas livrarias de Paris.

LOCUTOR Escrevia e organizava. Viajou por toda França reunindo-se com trabalhadores e estudantes, convencendo-os a formar uma frente única de trabalhadores.

LOCUTORA Assim colocava em prática as idéias de sua principal obra, a União operária, que marca a maturidade intelectual e política de Flora Tristán.

FLORA Proletários e proletárias do mundo, uni-vos!

LOCUTOR Socialista, feminista, precursora da Primeira Internacional, Flora Tristán adiantou-se vários anos às propostas de Karl Marx.

CONTROLESICA SOLENE

LOCUTORA Morreu em 14 de novembro de 1844, com apenas 41 anos. Os operários franceses carregaram seu ataúde e escreveram seu epitáfio:

HOMBRE À memória de Flora Tristán, autora da União Operária, os trabalhadores reconhecidos. Liberdade, igualdade, fraternidade, solidariedade.

BIBLIOGRAFÍA
Germán Arciniegas, Las Mujeres y las Horas, Andrés Bello, Santiago de Chile 1986.