UMA SERPENTE POUCO DEMOCRÁTICA

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Todos somos diferentes, mas temos igual valor… Mas parece que esta serpente não está muito de acordo.

(Visite a fábula anterior)

TODOS Viva! Viva!

NARRADORA Naquele dia havia um grande alvoroço na floresta.

TODOS Que alegria, acabou-se a tirania!

NARRADORA A longa ditadura do leão havia terminado. A partir desse momento o rei da selva… não reinava mais.

TODOS Viva a democracia!

CORUJA Democracia? E que graça tem essa democracia?

MACACO (BAIANO) Olhe só, dona coruja, tão falando por aí, que democracia é governar juntos, sem senhores nem escravos.

CORUJA Ui, senhor macaco, e de onde vem você que fala tão esquisito?

MACACO Do outro lado do rio, dona coruja. Escutei a algazarra e vim ver o que estava acontecendo.

CORUJA Pois na qualidade de mais sábia da floresta… opino que acho bem legal isso de governar todos juntos.

SERPENTE (ASSOBIANDO) Juntos, amiga coruja, juntos, mas não misturados.

CORUJA Chegou a estraga festas. Com o que quer nos envenenar agora, senhorita serpente.

SERPENTE Essa coisa de governar todos juntos… A senhora, como coruja sábia, não percebe o quanto somos diferentes?

CORUJA Solte a sua língua viperina e nos explique qual é o problema.

SERPENTE Exemplo um. Já se imaginou governando os ursos preguiçosos que passam o dia dormindo?

CORUJA Bom, nisso você tem razão…

SERPENTE Exemplo dois. Imagine governando os flamingos rosados da lagoa com aquele andar amaneirados?

MACACO (BAIANO) Oxe, irmã, mas se continuar colocando todo mundo pra fora, quem vai ficar dentro?

SERPENTE Diante de seus olhos, dona coruja, tem o terceiro exemplo: observe este macaco estrangeiro, que vive no outro lado do rio.

MACACO Não vem com essa, cobrinha. Eu sou como vocês…

SERPENTE Como nós!… Você é diferente. E os diferentes não têm lugar em um governo de iguais.

CORUJA Não admito que destrate o macaco, um vizinho que veio de tão longe!

SERPENTE O que eu não admito é o mau cheiro. Exemplo quatro, o que seria de nós se aqueles gambás fedorentos nos governassem?… Pense um pouco, dona coruja!

CORUJA Pensando bem… acho que a serpente tem razão. Vamos colocar para fora os bichos estranhos. Reunamos todos os animais e tomemos uma decisão.

EFEITO BARULHO ANIMAIS

NARRADORA Dito e feito. As águias e os gaviões voaram pelos céus anunciando a jornada democrática.

ÁGUIA Faça-se saber, que amanhã, quando o sol estiver a pino, haverá uma reunião debaixo do grande salgueiro!… Que ninguém falte!

NARRADORA No dia seguinte, todos os animais compareceram em torno do grande salgueiro, os que voam, os que nadam, os que caminham, os que saltam e os que se arrastam.

CORUJA Silêncio, ordem, silêncio. Obrigada por atender à convocação. Como vêem, esta é a primeira reunião que celebramos sem a tirania do leão.

EFEITO APLAUSOS

CORUJA Estamos aqui para ver como organizamos um bom governo na floresta. Supõe-se que a democracia é a participação de todos os animais, mas acho que a serpente tem uma proposta melhor. Com a palavra, senhorita serpente.

SERPENTE (ASSOBIANDO) Eu acho que para que algo funcione, temos que ser iguais. Mas não somos iguais. Alguns dos aqui presentes são muito diferentes.

TODOS VAIAS DE PROTESTO

NARRADORA Os animais se irritaram. Estavam surpresos ao ver que a coruja, sempre tão sábia, tinha ficado do lado da astuta serpente.

CORUJA Procedamos, então, a ver quem são os diferentes. Comecemos pelos ursos preguiçosos, animais dorminhocos. Não é verdade que eles não se parecem com nenhum de nós?

NARRADORA Os animais começaram a olharem-se uns aos outros, até que lá do fundo se ouviu uma voz cansada…

TARTARUGA Bom, nós as tartarugas dormimos um bocado… (BOCEJA)… agora mesmo já estou com sono.

NARRADORA Então falaram os morcegos que dormem durante todo o dia e também os arganazes que o passam roncando.

CORUJA Pois parece, senhorita serpente, que os preguiçosos não são tão diferentes como você dizia. Vejamos os flamingos com essa forma de andar tão estranha…

NARRADORA Os flamingos passaram de rosados a vermelhos, de vergonha.

VEADO Se é pela forma de caminhar, terão que tirar nós também, os veados. E os patos. E as rãs.

CORUJA Então, os flamingos também não são tão diferentes.

SERPENTE Os gambás fedem…

CUTIA Pois nós, as cutias, não cheiramos a rosas!

EFEITO RISADAS

NARRADORA Em meio daquela confusão, a sábia coruja tomou a palavra e cravou seus olhos castanhos sobre a serpente.

CORUJA Vejamos quem mais é diferente…

SERPENTE (ASSOBIO, NERVOSA) A quem se refere, dona coruja?

CORUJA A vocês, as serpentes. (A TODOS) Digam-me se conhecem animais tão estranhos que mudam de pele a cada momento, soltam veneno pela língua, não têm patas, e se arrastam pelo solo.

NARRADORA Se fez um grande silêncio. A serpente olhou a seu redor e sentiu mil olhos acusadores sobre ela.

CORUJA Obrigada por sua brilhante idéia, senhorita serpente, chegamos à conclusão de que você é a única que está sobrando aqui

TODOS RISADAS

NARRADORA A serpente já estava escapando-se por entre os matagais da selva, quando a palavra da coruja a deteve…

CORUJA Não, senhorita serpente, fique. Fique conosco com uma condição: que não fale mal de nenhum animal. Porque são mais as coisas que nos unem que as que nos separam.

NARRADORA E foi assim que a serpente aprendeu que todos somos diferentes, mas temos igual valor. E adivinha se for competente, com quem se parece esta serpente?

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