EU, O SAPATO

Radioclip en texto sin audio grabado.

Tudo pode falar no rádio. Tudo pode ser “personificado”.

Rádio é magia. Com um pouco de imaginação, podemos entrevistar um sapato para que nos conte de suas aventuras nas ruas. Podemos pedir declaração a um tomate e que nos explique por que os intermediários o tornam tão caro. Podemos viajar pelo interior do corpo humano perseguindo micróbios malvados. Tudo pode falar no rádio. Tudo pode ser “personificado”.

As personificações são um recurso estupendo para dinamizar as radiorevistas e outros espaços da programação.

Alguém pode pensar que este recurso é para os programas infantis. Nada disso. Os adultos também se entusiasmam ao entrar nesses mundos fantásticos onde os animais, as plantas e os objetos conversam.

Como fazer uma boa personificação? Desfigurando um pouco a voz. O ator ou a atriz deve imaginar como falaria um gato se pudesse falar. Uma montanha, por exemplo, terá uma voz lenta e grossa, talvez com eco. Um lápis terá uma voz fina.

É preciso ter cuidado de não subir a tons muito agudos, de falsete, que não dá para entender. Também podemos incorporar as onomatopéias (os sons naturais) dos animais ou coisas. Quem imita um bode berrará entre uma frase e outra. Quem faz a serpente, assobiará. Fala-se um trator, terá um “rrr” arrastado, imitando o motor.

Os objetos personificados devem atuar coerentemente com o que são e podem fazer. Uma árvore pode inclinar-se para ver algo, mas não pode caminhar. Uma escova caminha e até dança, mas não come. Um computador devora raios de luz, mas não joga futebol.

A natureza não é pedante. Nenhuma de suas criaturas utilizará uma linguagem rebuscada para falar. Quanto mais simples forem as palavras que utilizem os objetos personificados, mais criveis serão.

As coisas também têm sexo. A bandeira é feminina e o escudo, masculino. A cadeira falará com voz de mulher e o sofá com voz de homem. E assim por diante.

Para que servem as personificações? Para colocar humor e fantasia nos programas de ciências naturais, de saúde, de agropecuária. Uma vaca exigirá melhor cuidado para seus ubres. E a lua conversará assanhada antes de encontrar-se com o sol no eclipse. Também servem para programas de história e de arte. Uma flauta nos contará muito docemente como as mãos do índio a talharam. Um copo de cachaça se alegrará recordando as festas que assistiu. E as pedras de Machu Picchu, lá de suas alturas, responderão a Pablo Neruda.

Revise teu programa. Por acaso descuidaste desse maravilhoso recurso que te brinda a linguagem radiofônica?