EU SOU CREATIVO, VOCÊ É CRIATIVA
Cinco dicas para estimular tua capacidade criativa.
Em rádio (e em todos os meios) é indispensável a criatividade. Mas, onde se consegue, em que loja se compra esta maravilhosa qualidade que permite fazer bons programas, bons spots, boa comunicação?
Embora não vendam injeções nem comprimidos de criatividade, esta qualidade pode ser estimulada. Podemos esfregar a lâmpada e deixar que o gênio saia. As dicas que vão a seguir te ajudarão a conseguir.
Criatividade vem do verbo “criar”. E criar não é outra coisa que recombinar elementos, jogar com os dados que conhecemos e que fomos recolhendo ao longo de nossa vida.
Por exemplo, a palavra “nave” é muito comum. E o adjetivo “enterrada”, também. Pablo Neruda juntou ambos os termos nesta metáfora “nave enterrada” para referir-se à montanha de Machu Picchu, parecida com a quilha de um barco naufragado nas alturas andinas. Todo este poema é um esbanjamento de criatividade juntando palavras conhecidas de uma forma nova, surpreendente. Preste atenção nas combinações que faz o poeta:
Alto arrecife da aurora humana.
Pá perdida na primeira areia.
Túnica triangular
Lâmpada de granito
Serpente mineral
Nave enterrada…
A criatividade recombina os elementos que você já tem na cabeça. (Por isso, os sonhos são especialmente criativos, porque o cérebro trabalha livremente com todas as imagens acumuladas durante anos.)
Mas se viveu pouco, terá pouco para recombinar. Daí que a primeira e inegociável dica para chegar a ser criativo e criativa consiste em desenvolver a “curiosidade intelectual”. Leia, pergunte, converse, investigue, se interesse por coisas diferentes, desfrute a diversidade… assim o poço de tua mente será profundo e sempre terá água fresca.
Suponhamos que vem um cliente e te pede um spot sobre um motor que tem muita cilindragem. E pensa em ilustrá-lo… com uns fortes cavalos galopando! É a primeira ideia, a menos original.
Entre na internet, coloque a palavra “criatividade” e procure imagens que pretendem ilustrá-la. O que encontra? Lâmpadas e mais lâmpadas. Costuma-se desenhar uma pessoa com uma ideia brilhante com uma lâmpada amarela sobre sua cabeça. É a primeira ideia, a mais comum de todas.
As primeiras ideias que vêm a nossa mente são as tópicas, as repetidas, as que ocorrem a qualquer um. Descarte essas primeiras ideias. Lembre-se que a insatisfação é a melhor conselheira de quem quer ser criativo.
Pense, esprema o cérebro. Verá que no momento mais inesperado salta a lebre. Quando menos espere, gritará eureca!
Jorge Montalvo, da Universidade de Lima, escreveu uma excelente definição de criatividade:
Atreva-se a inventar. Se sair bom, pois bem. E se sair mal, sempre será melhor equivocar-se que não tentar. Imagine um programa surpreendente. Imagine um formato nunca experimentado. O bom radialista sempre tem uma dose de irreverência. A boa comunicadora sempre a tacharão de transgressora.
Convém ser herege e não dogmático. Herege, em sua etimologia, significa “quem pensa por cabeça própria”. Pelo contrário, dogmático é quem obedece ao pensamento alheio. A heresia sempre é criativa, tem cores. O dogma é cinza.
Ninguém sabe tudo e ninguém ignora tudo, repetia Paulo Freire. Por isso, a criatividade é uma filha coletiva. Todo conhecimento, todo descobrimento, toda ideia nova é um fruto amadurecida entre várias mentes e muitas sensibilidades.
Para pôr título a um programa de rádio, reúna alguns colegas, cumprem um par de cervejas, e “bote na banca”, como dizem os brasileiros. Para inventar atrativos em tua radiorevista, ouça opiniões, peça sugestões, invente em grupo. Quer rejuvenescer a programação de tua emissora? Não entre só em teu escritório. Chame toda a equipe, incluindo o chofer e a recepcionista, e dê permissão para que soltem as ideias mais atrevidas, as propostas mais loucas.
Não há gênios solitários. E os que acreditam sê-lo, acabarão comprovando aquele velho ditado que diz: “o doutor e um camponês sabem mais que o doutor sozinho”.
Nada mais criativo que o amor. Se você gosta de trabalhar em rádio, se seus olhos brilham quando entra na cabine e te dão o sinal de falar, se você se diverte fazendo entrevistas, redigindo libretos, gravando sociodramas, transmitindo da rua, fazendo jornalismo de investigação… se sente paixão pelo que faz, em ti florescerá a criatividade.
“Só se vê bem com o coração”, dizia a raposa ao Pequeno Príncipe. Só se cria bem com o coração, dizemos a vocês, radialistas apaixonadas e apaixonados.