O ARGUMENTO DE BEETHOVEN
Os “pró-vida” que estão obcecados com o aborto utilizam muito esta mentira.
EFEITO AMBIENTE DE HOSPITAL
DOUTOR Doutora?
DOUTORA Sim, doutor?
DOUTOR Permita-me uma pergunta?
DOUTOR Com prazer, doutor. Do que se trata?
DOUTOR Bom, doutora, eu sei que você é das que defende o aborto terapêutico, não é mesmo?
DOUTOR Claro que sim, doutor. E eu sei que você é um católico pró-vida que se opõe a todo tipo de aborto, não é assim?
DOUTOR Isso mesmo. É precisamente por isso que quero que me escute colega.
DOUTORA Pode falar, doutor.
DOUTOR Gostaria de saber sua opinião sobre o seguinte caso. O pai era sifilítico, a mãe tuberculosa. Dos quatro filhos nascidos, o primeiro era cego, o segundo morreu, o terceiro era surdo-mudo e o quarto também tuberculoso. A esposa ficou novamente grávida. O que você teria feito?
DOUTORA Imediatamente, eu interromperia essa gravidez.
DOUTOR (IRÔNICO) Felicidades, você acaba de matar a Beethoven.
CONTROLE GOLPE MUSICAL
DOUTOR Ficou muda, doutora?
DOUTORA Muda, não. Fiquei surpreendida… de sua estupidez.
DOUTOR Como de minha estupidez? Não lhe parece um argumento grandioso contra o aborto?
DOUTORA O que é grandioso é a mentira.
DOUTOR Qual mentira?
DOUTORA Doutor, por favor. Vá ler a biografia de Beethoven. Essa história que corre pela Internet é completamente falsa. O músico Ludwig van Beethoven não foi o quinto filho de seus pais, mas o primeiro. Seu pai não era sifilítico nem seus irmãos tinham tais deficiências. Tudo isso é uma história inventada por alguns fanáticos contra o aborto.
DOUTOR Bom, eu não sei muito sobre a vida de Beethoven…
DOUTORA Escute, doutor. Agora eu é que faço ao senhor uma pergunta.
DOUTOR Vejamos, diga-me.
DOUTORA Imagine à senhora Clara Polzl quando estava grávida. O que o você teria feito?
DOUTOR Desculpe, mas… não sei quem é essa senhora Clara Polzl.
DOUTORA A mãe de Hitler. A mãe de Adolf Hitler. Imagine que a senhora Clara acaba de ter relação com seu marido e em seu ventre há um embrião de Adolf Hitler. O que você faria?
DOUTOR Uff… essa é uma situação difícil, colega.
DOUTORA Não acho que você preferiria salvar esse embrião ao invés de salvar a vida dos milhões de inocentes que foram assassinados por Hitler.
DOUTOR Não, naturalmente… Nesse caso… Acontece, doutora, que a gente nunca sabe… Talvez esse Hitler nascesse e se tornasse bom.
DOUTORA E talvez esse Beethoven nascesse e se tornasse mal. Não sabemos. Não podemos argumentar com “o que poderia acontecer se…” mas com o que acontece. Com a realidade. E a realidade, doutor, é que uma mulher que está com uma gravidez de risco, ou com uma má gravidez, tem o direito de decidir se continua com a gravidez ou não. É um direito de qualquer mulher.
DOUTOR E a doutora pode me explicar o que é para você uma má gravidez?
DOUTORA Muito simples. Uma má gravidez é…
CONTROLE GOLPE DA QUINTA DE BEETHOVEN
LOCUTOR Quando está em risco a vida ou a saúde da mãe.
CONTROLE GOLPE DA QUINTA DE BEETHOVEN
LOCUTORA Quando o embrião está malformado e nascerá com graves deficiências físicas ou psíquicas.
CONTROLE GOLPE DA QUINTA DE BEETHOVEN
LOCUTOR Quando a gravidez é fruto de um estupro.
CONTROLE GOLPE DA QUINTA DE BEETHOVEN
DOUTOR Então…
DOUTORA Então esqueça seu argumento de Beethoven que não argumenta nada. E preocupe-se mais com as milhares de mulheres que têm direito a interromper uma má gravidez.
Richard Dawkins, El espejismo de Dios, Espasa: Madrid 2007.