O LUGAR MAIS SAGRADO
A história de dois irmãos com um so coração.
EFEITO AMBIENTE DE CAMPO
NARRADORA Havia uma vez dois irmãos, um solteiro e outro casado. Possuíam uma granja cujo fértil solo produzia abundante trigo. Os dois irmãos repartiam a colheita entre si, em partes iguais.
CONTROLE- MÚSICA ALEGRE
NARRADORA- No princípio, tudo ia perfeitamente bem. Mas chegou um momento em que o irmão casado começou a despertar-se com preocupação todas as noites:
IRMÃO 1- (PENSANDO) No é justo. Meu irmão é solteiro e fica com a metade do trigo, mas eu tenho esposa e cinco filos. Em minha velhice terei tudo quanto necessito. Quem o cuidará quando tornar-se velho? Ele deve poupar para o futuro porque a sua necessidade será maior, evidentemente, que a minha.
EFEITO- GRILOS
NARRADORA- Então, se levantava da cama, ia silenciosamente à casa de seu irmão…
EFEITO- ESVASIANDO SACO GRÃOS
NARRADORA- … E derramava no celeiro dele um saco de trigo.
CONTROLE- MÚSICA EMOTIVA
NARRADORA- Também o irmão solteiro começou a despertar- se à noite e refletir:
IRMÃO 2- (PENSANDO) Isto é uma injustiça. Meu irmão tem mulher e cinco filhos e fica com a metade da colheita. Mas eu não tenho manter a ninguém, a não ser eu mesmo. É justo, acaso, que meu pobre irmão, cuja necessidade é maior que a minha, receba o mesmo que eu?
EFEITO- GRILOS
NARRADORA- Então, se levantava da cama…
EFEITO- ESVASIANDO SACO DE GRÃOS
NARRADORA- …e levava um saco de trigo ao celeiro de seu irmão.
CONTROLE- MÚSICA EMOTIVA
NARRADORA- Uma noite, os dois irmãos levantaram-se da cama ao mesmo tempo e tropeçaram um com o outro. Cada qual levava um saco de trigo nas costas.
IRMAO 1- Meu irmão!
IRMÃO 2- Meu irmão de alma!
CONTROLE- MÚSICA EMOTIVA
NARRADORA- Vários anos mais tarde, quando os dois já haviam morrido, este fato tornou-se conhecido do povo.
VIZINHA- Este é o lugar. Aqui construiremos.
NARRADORA- Quando os vizinhos e vizinhas decidiram levantar uma igreja, escolheram o sítio em ambos irmãos se encontraram naquela noite. Diziam que não havia no povo um lugar mais sagrado que aquele.
Anthony de Mello, La Oración de la Rana 1, Sal Terrae, Santander 1988.