A BOTIJA (1)

Radioclip en texto sin audio grabado.

Um conto surpreendente do escritor salvadorenho Salarrué!

EFEITO AMANHECER

NARRADORA José Pashaca era… um corpo estirado numa maca.

JOSÉ BOSCEJA

NARRADORA … a maca estava joga num rancho…

JOSÉ NOVO BOSCEJO

NARRADORA … e o rancho era um rancho na ladeira de um povoadozinho campones.

MAE Filho, desperta ao menos!… até a cor de teus olhos já me esqueci!

NARRADORA Petrona era a nana, a mãe de leite que o havia criado e alimentado…

JOSÉ Que quer, mamãe?

MAE Como o que quero?… É necessario que trabalhes, filho!… Já sois um índio feito e direito!… Tens que buscar algum ofício!

JOSÉ Bah… Não me encha o saco, mamãe … (BOSCEJA)

NARRADORA Em algo se regenerou o folgadão: de estar dormindo passou a… a estar boscejando.

CONTROLSICA ALEGRE

NARRADORA Um dia, chegou Eulogia, uma vizinha da comarca, a casa de José Pashaca. Vinha com algo nas mãos …

EULOGIA Vejam o que encontrei trabalhando no campo…

NARRADORA Era um sapo de pedra… Tinha uns enfeitizinhos e as pelotinhas de os olhos bem marcadas.

EULOGIA As coisas que alguém encontra nestas terras!… Que feio este sapinho, não ?… (SE RÍ)… Vá, aí o deixo para que jogue sua meninha, dona Petrona…

NARRADORA José Pashaca nem abriu os olhos para ver o sapo de pedra. Mas em pouco tempo, chegou o avô Bashuto…

AVÔ Bom dia nos dê Deus!

MAE (3 P) Bom dia, vovô Bashuto. Em posso servir-lhe?

AVÔ Pois vinha pedir-lhe… Ei… e este sapinho, quem o trouxe?

MAE O deixou a vizinha Eulogia, que o encontrou arando a terra…

AVÔ Estas cosinhas são obra de outros tempos, dos antigos povoadores. Nos surcos aparecem… Também se encontram botijas de ouro…

NARRADORA Quando o aô mencionou as botijas de ouro, José Pashaca se dignou abrir os olhos e até pronunciar algumas palavras …

JOSÉ (BOSCEJA) Como é isso, vovô Bashuto?

VOVÔ Questões de sorte, homem!… Agarras o arado, vá arando, vá abrindo a terra e… ploc, ploc!… de repente te topas com a botija… e pronto… te enches de ouro e de prata…

JOSÉ ¿Eso es de veras-de veras, abuelo Bashuto?

VOVÔ De verdade, rapaz. Assim como o ouves. Bom, é a sorte de cada um… Eu recordo um compadre meu que vivia na outra ladeira do povoado…

JOSÉ Conte, conte, vovô…

VOVÔ Pois acontece que esse compadre, uma certa vez, bem de madrugadinha, meteu o arado na terra e não podia avançar… então forçava… afundava mas o ferro…(SE PERDE)

NARRADORA O vovô Bashuto acendeu um cigarro e começou a contar mil casos de botijas de ouro que haviam encontrado alguns conhecidos seus…

VOVÔ Questão de sorte, homem!

NARRADORA Quando o avô se foi, a José Pashaca ficou-lhe remoendo por dentro…

JOSÉ (PENSATIVO) Como que questão de sorte, não?   

(CONTINUARÁ)

BIBLIOGRAFIA
Adaptação do conto do escritor salvadorenho Salvador Salazar Arrué, mais conhecido como Salarrué (188-1975). Contos de barro, EDUCA, San José 1982.