A RESISTÊNCIA

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Um poema sobre a resistência popular frente à violência política.

No mesmo dia do golpe de Estado em Honduras, 28 de junho de 2009, nasceu Feministas em Resistência. Nesse dia muitas mulheres se transladaram à casa presidencial para protestar. Foram expulsas com balas e bombas lacrimogêneas. Mas no dia seguinte voltaram indignadas. E depois, participaram em todas as marchas e sofreram a repressão do exército e da polícia nacional.

Jessica Isla é jornalista e feminista hondurenha. Ser jornalista em Honduras é arriscar a vida. Desde o golpe de Estado, mais de 30 jornalistas foram assassinados em Honduras.

Em vésperas de 25 de novembro, Dia da Não-Violência contra as Mulheres, compartilhamos com vocês este poema de Jessica, que expressa os sentimentos do povo hondurenho e de tantos povos que veem seus direitos violados. Mas resistem.

Sou este corpo desenhado a golpes

que caminha dia após dia debaixo do sol,

debaixo deste céu incerto de máquinas aladas,

em meio de rajadas de fumaça e

o som de fuzis.

Sou infinidade de rostos:

o de um menino assassinado,

o da avó que caminha

o da gente lenca armada de uma paciência infinita

o da pintora de mantas,

o da menina das muletas

que enfrentam esparsos ou em conjunto

as muralhas verde oliva carregadas de violência.

Posso dizer que do meu corpo saem muitos cheios

o da montuca fresca

o da tortilha e dos feijões

o de mãos suadas e corpos cansados,

mas também

o cheiro de sangue derramado

o de gás e pólvora

o cheiro de morte e medo.

Minha garganta

está povoada de vozes:

estou nas discussões acaloradas das assembléias

no grito da professora.

no relato da jovem violada,

no protesto dos espancados, das torturadas

na voz que canta nas ruas

Sou milhões de chapéus e

centenas de palavras,

sou abraços, lágrimas,

ternura, gargalhadas.

Estou cheia de

sorrisos que iluminam o dia

cores que vêm de todas partes

tenho alegria, vontade de dançar,

tenho esperança.

Porque sem mim as ruas

ficariam sozinhas,

porque sem mim as paredes não diriam nada

porque sou tuas mãos, teus pés cansados,

tua voz.

Eu sou a resistência.

BIBLIOGRAFÍA
Pan y Rosas