AMÉRICA… PARA OS ESPANHÓIS
Quem deu nossas terras aos Reis da Espanha?
LOCUTOR Fazemos agora uma conexão direta com a Cidade do Vaticano para levarlhes na voz de nosso correspondente em Roma uma notícia… de última hora!
REPÓRTER Estimados radio-ouvintes, dos salões vaticanos transmitindo para todos vocês. Neste momento, uma nuvem de jornalistas aguarda as declarações de Sua Santidade o Papa. Como ecordarão nossos ouvintes, a recente viagem de Cristóvão Colombo a terras até agora desconhecidas, provocou grandes discussões em toda Europa. América foi descoberta só faz alguns meses. Ninguém sabia da existência destes imensos territórios ricos em ouro e prata, povoados de índios e de pássaros coloridos. Ninguém sabia. Mas agora todos sabem y se perguntam: de quem são essas terras? De quem é esse ouro? De quem são esses índios? Afinal, de quem é a América? Corresponde a sua Santidade decidir. Senhoras e senhores, em instantes estará se abrindo as portas de bronze da fabulosa capela Sistina. Daqui podemos ver o Santo Padre sentado em seu trono e revestido com seus ornamentos mais solenes. Chegou a hora esperada. O Papa vai falar!
PAPA Em Nome de Deus e como Cabeça que sou da Santa Igreja Católica, depois de muitas orações, decidi entregar as riquíssimas terras da América e tudo o que há nelas, aos Reis da Espanha. Meus amados filhos: que a América seja… para os espanhóis.
INTERLOCUTOR Autêntico. Em 4 de maio de 1493, só sete meses depois de Colombo chegar à América, o então Papa, Alexandre Sexto, que por certo era um espanhol, deu em “propriedade perpétua” todas nossas terras, todos nossos países, todo nosso continente, aos reis da Espanha. Durante 500 anos nos disseram que eles tinham o direito de rifar o mundo e que era Deus quem lhes dava esse direito. Talvez a história seja justamente o contrário.
O Papa atuou segundo as leis de seu tempo…
O Papa se equivocou, mas o fez com boa intenção…
O Papa foi um ladrão presenteando terras alheias…
José Ignacio y María López Vigil, Noticias de Última Ira, 1992.
SERIE: NOTICIAS DE ÚLTIMA IRA