O DEUS MERCADO (3)

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Pobres o empobrecidos? Em vias de desenvolvimento o de subdesenvolvimento?

CAPITALISTA Como é isso, senhor economista?

ECONOMISTA Emprestem-lhes dinheiro. Emprestem-lhes cobrando uma pequena taxa de juros, no valor de 10 por cento. Com isso se resolverá a crise. O povo terá dólares para comprar, o nível do tanque baixará e vocês terão mais lucros e vantagens.

CAPITALISTA Genial!… Si não fosse por vocês, os economistas!

CONTROL MÚSICA ALEGRE

NARRADORA E aconteceu que os neoliberais chamaram o povo…

CAPITALISTA Compreendemos a difícil situação que vocês atravessam e se nos parte o coração vendo a miséria a que chegaram. Os ricos também choramos, creiam-nos.

MULHER A nós se nos parte ol estômago, não o coração. Fomer e sede, essa é a nossa vida.

CAPITALISTA Pois essa vida vai mudar. vocês vão transformar-se em um povo em vias de desenvolvimento.

HOMEM Ah, sim ? E como é isso?

CAPITALISTA Lhes faremos um empréstito. Terão dinheiro vivo, haremos un préstamo. Tendrán dinero en efectivo, contante e sonante, para comprar água. Naturalmente, este risco que corremos certamente tenerá sua recompensa. Lhes cobraremos um módico 10 por cento sobre a quantidade de dólares emprestados. Que lhes parece?

NARRADORA Ao povo lhe pareceu bem porque a fome é má conselheira e a sede é peor ainda.

CAPÌTALISTA Qunato querem? Mil, dez mil?… Peçam e receberão.

EFEITO GRITARIA

NARRADORA Aquele era um milagre. Durante a noite, a cidade teve dinheiro, muito dinheiro nas mãos. O povo comprou água. Bebeu e e se saciou

MULHER Que boa vida!… E nós falando mal dos neoliberais e, observe, que eles tiveram compaixão de nós.

NARRADORA O Mercado foi ativo. Como o nível do tanque abaixou por causa do aumento do consumo, o povo foi contratado para encher o tanque de água novamente.

CAPITALISTA Por cada cubo, um dólar. E para comprar, dois dólares. Assim são as leis de Mercado.

NARRADORA O povo estava feliz com aquela bonanza enconômica. Tinha dinheiro do empréstimo e, além do mais, o dinheiro que lhes pagavam para carregar latões d’agua..

HOMEM Iupi!… Até que em fim, deixamos de ser pobres!… Já era hora!

CONTROL MÚSICA MUITO ALEGRE FUNDE COM OUTRA NOTURNA

EFEITO GRILOS

NARRADORA E assim passou o tempo. Caíram as folhas do almanaque e acabou o ano.

CAPITALISTA Os interesses, senhoras e senhores. Dez mil dólares emprestados. A dez por cento são mil dólares. Paguem e não reclamem.

MULHER Mas… é que não temos.

CAPITALISTA Como que não têm? Vamos ver se nos entendemos. Nós lhes emprestamos prata. Lhes demos trabalho. Que mais querem?

MULHER Sim, e o agradecemos… Mas é que não temos.

HOMEM Todo o dinheiro do empréstimo e dos salários se nos foi só comprando água para beber e viver.

MULHER Si a água não fosse tão cara…

CAPITALISTA Desculpas. Pretextos. Preguiça. Por isso estão como estão. Agora, paguem. Contas claras guardam amizades.

MULHER Mas… é que nós não temos.   

CAPITALISTA (MEIA VOZ) o Economista… o que fazemos neste caso?

ECONOMISTA (MEIA VOZ) Volte emprestar-lhes. Com o empréstimo novo eles pagarão os juros anteriores. Não se preocupe, a mão invisível do Mercado conserva tudo.

CAPITALISTA Vejamos, o povo esbanjador, quanto quer? Dez mil mais? Muito bem. Nos devuelve mil de juros. Agora nos deve vinte mil.

CONTROL EXPLOSÃO SONORA

CAPITALISTA Quanto querem? Vinte mil mais? Muito bem. Nos devolvem dois mil de juros. Agora nos devem quarenta mil.

CONTROL EXPLOSÃO SONORA

CAPITALISTA Quanto querem agora? Outros quarenta mil? Muito bem. Nos devuelvem quatro mil de juros. Agora nos devem oitenta mil.

CONTROL EXPLOSÃO SONORA

CAPITALISTA Oitenta mil? Nos devuelvem…   

MULHER Basta, basta, basta!… Não podemos pagar nada porque não temos nada.

CAPITALISTA Ah, sim, é verdade?… Pois Ficarãol sem água!

EFEITO MURMURIOS

ECONOMISTA Está acontecendo algo chefe?

CAPITALISTA Que bom que chegou, senhor economista, por que acredito que estamos em uma nova crise econômica.

(CONTINUARÁ)

BIBLIOGRAFIA
Adaptação livre da parábola de Edward Bellamy, El Mercado.