SOU ÍNDIA

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Um poema para as mulheres que lutam dia a dia para serem livres, para aquelas que são chamadas de loucas.

Há anos pedimos que no Dia Internacional da Mulher se lembre a luta incansável de milhares e milhares de mulheres que dia a dia enfrentam a exclusão, a exploração, um sem-fim de formas de violência. Este poema de Patricia Karina Vergara Sánchez, feminista e jornalista mexicana, nos lembra que não devemos vencer-nos, mas vencer. FELIZ DIA A TODAS!

Equipe RADIALISTAS

MULHER 1 Sou índia.

Morena, de cara chata,

em um país

obsessivamente racista.

MULHER 2 Sou lésbica,

em uma nação

que compulsivamente me persegue.

MULHER 1 Insisto,

na liberdade de decidir sobre meu corpo,

em território

dos que realizam leis

que buscam me submeter.

MULHER 2 Não acredito em seu deus,

menos ainda quando habito um Estado

opressivamente católico.

MULHER 1 Invoco às deusas,

dentro de um patriarcado

que há milhares de anos tenta ocultá-las.

MULHER 2 Participo na luta das trabalhadoras,

de um povo

já comercializado e nas mãos do patrão.

MULHER 1 Conheço a importância

do trabalho contestatório,

quando em minha pátria

se prende a quem discorda.

MULHER 2 Sou antiimperialista,

vivendo ao lado de Bush.

MULHER 1 Sou gorda,

no auge

da tortura estética,

da anorexia e da bulimia.

MULHER 2 Dei a luz,

em uma era

que acabou com a esperança,

já faz tempo.

MULHER 1 Aposto na luta libertária,

no reino do televisor.

MULHER 2 Sou pobre,

em um planeta

onde comem migalhas

tantos milhões de pobres.

MULHER 1 Sou feminista,

em uma terra hostil

à palavra mulher.

MULHER 2 Sou mulher.

Em um tempo

em que o feminicídio

nos tornou descartáveis.

MULHER 1 Naturalmente,

dizem que estou louca,

extremamente louca.

MULHER 2 Que sou esquisita, que me tornei estranha.

Que não tenho lugar no mundo.

MULHER 1 Então, não me sobra outra alternativa:

Tenho que nomear o racismo,

MULHER 2 que apontar o desprezo,

MULHER 1 que eleger sobre minha vida,

MULHER 2 que armar-me antipatriarcal,

MULHER 1 que inventar a fé para dá-la a minha filha,

MULHER 2 que rebelar-me contra o patrão,

MULHER 1 que escrever pela liberdade às presas políticas,

MULHER 2 que denunciar o império,

MULHER 1 que amar meu corpo,

MULHER 2 que desligar o televisor,

MULHER 1 que mostrar meus bolsos,

MULHER 2 que atuar contra a misoginia,

MULHER 1 que buscar justiça para as minhas,

MULHER 2 que demandar castigo aos assassinos.

MULHER 1 É por tudo isso,

que não tenho mais remédio

que dar-lhes a má notícia

às boas e tranquilas consciências:

RIAS VOZES Estou aqui.

MULHER 1 Exigindo a gritos,

a parte que me corresponde do mundo.

E não vou calar a boca, nem desaparecer.

BIBLIOGRAFÍA
http://www.mulheresnet.info/seccion/poesiafeminista.html