Capítulo 17 – IRMÃO PETRÓLEO

O mundo reclama de todos os governantes, preservar e melhorar o ambiente natural e vencer quanto antes o fenômeno da exclusão social e econômica, com suas tristes consequências de tráfico de seres humanos, comércio de órgãos e tecidos humanos, exploração sexual de crianças, trabalho escravo, incluindo a prostituição, tráfico de drogas e de

FRANCISCO A paz esteja com vocês, irmãs e irmãos! Paz e felicidade e bênçãos de Deus, que é nosso pai e nossa mãe! Sou Francisco de Assis, amante da Natureza e amante de suas criaturas…

BARQUEIRO Segure-se bem, padinho, que há ondas!

FRANCISCO Estou navegando pelo rio mais caudaloso do mundo… o grande Amazonas, o rio mar, como o chamam! Estou na Amazônia do Brasil… A meu redor, árvores imensas, uma selva densa… Irmão barqueiro, falta muito para chegar?

BARQUEIRO Não se avexe, padinho… já falta pouco!

BARQUEIRO Pronto, padinho. Chegamos.

FRANCISCO Mas… o que é isso? Você me disse que íamos à cidade mais bonita do mundo…

BARQUEIRO E é aqui, padinho. Uma cidade petroleira… Esses poços que vê ao fundo são da empresa chinesa. Mais pra frente estão os gringos. E deste lado do rio, os brasileiros, lá os argentinos… petróleo por todo lado!

FRANCISCO Não te entendo, irmão barqueiro. A isso você chama o mais bonito?

BARQUEIRO O petróleo é riqueza, padinho. É o ouro negro, a bênção de Deus. O petróleo é dinheiro. Dinheiro! Money!

FRANCISCO E esta mancha de óleo negro que estou vendo, enorme, que suja o rio?

BARQUEIRO Ah, é que houve um vazamento… Um acidente… Mas isso não tem importância… esta selva aguenta tudo!

FRANCISCO Deixe-me neste cais, irmão barqueiro. E muito obrigado.

BARQUEIRO Muito bem. Te pego amanhã, padinho, nesta mesma hora… E aproveite… Vá por esse caminho e vai encontrar de tudo, bares, garotas gostosas… até meninas, indiazinhas… adeus!

FRANCISCO Uff… Viajar tanto para chegar a este lugar tão desagradável… O que vou fazer aqui? Com quem poderei falar?

PETRÓLEO Baixe a cabeça, Francisco… Fala comigo, com esta mancha negra e gosmenta em que está pisando. Ouça minha atribulada história.

FRANCISCO E você, quem é?

PETRÓLEO Melhor dizendo, quem era. Há milhões de anos eu fui floresta… Quando minha vida terminou, voltei a terra… Me decompus… E com o tempo fui me convertendo nesta pasta negra e fedida. Agora sou petróleo.

FRANCISCO Ah, então você é o famoso petróleo. Eu não te conhecia.

PETRÓLEO E preferia que ninguém me conhecesse. Mas empresários muito poderosos perfuraram poços e mais poços para retirar-me do fundo da terra e do fundo dos mares.

FRANCISCO E você, para que serve, irmão Petróleo? Conte-me.

PETRÓLEO Eu sou energia. Me extraem, me refinam, me queimam para mover motores, para dar luz e calor, para cozinhar, para asfalto, para plásticos, até para roupa, para tudo. O mundo se move graças a mim.

FRANCISCO Não sabia que você era tão importante, irmão Petróleo.

PETRÓLEO Olhe ao redor, Francisco. Está vendo esses balancins que sobem e descem, esses que parecem bicos de pássaros negros, abutres gigantes? Estão chupando-me por baixo da terra.

FRANCISCO Mas se você é tão útil à humanidade, não entendo por que está tão bravo.

PETRÓLEO Porque sujo, contamino. Aqui onde me vê e onde me cheira, eu sou o coração do problema da mudança climática.

FRANCISCO Outra vez a mudança climática!

PETRÓLEO Ouça, criatura de Deus. Quando me queimam para conseguir energia, de mim saem gases sujos de carbono que sobem para a atmosfera e formam uma capa que envolve a Terra… Os raios do Sol entram, mas não podem sair depois… A Amazônia e o planeta inteiro se aquecem…

FRANCISCO Diga-me uma coisa, irmão Petróleo. Por que você foi derramado aqui, no rio?

PETRÓLEO Estas empresas, Francisco, dizem que trabalham com “tecnologia limpa e de ponta”. Mas é mentira. A cada momento rompem os canos por onde me tiram e tudo se contamina. Os rios, a selva… Sujo a água, adoeço as pessoas…

FRANCISCO O barqueiro que me trouxe aqui dizia que você é a benção de Deus.

PETRÓLEO A maldição de Satanás, Francisco. Meu irmão o carvão também suja, mas menos. E meu irmão o gás. Mas eu sou o pior.

FRANCISCO Você te confessa culpado, então?

PETRÓLEO Sim, por minha culpa as empresas desalojam comunidades inteiras, acabam com os povos indígenas que vivem na Amazônia, separam as famílias, metem álcool e prostituição, poluem a água que as pessoas bebem… Uma desgraça.

FRANCISCO E as pessoas não protestam?

PETRÓLEO Prendem aos líderes que protestam e alguns deles são mortos. Os poços são militarizados… As corporações e os governos entram em acordo para calar as comunidades. Não as consultam para a exploração.

FRANCISCO Pelo que me conta, você, o famoso petróleo, provoca mais dano que bem. Causa mais desastres que os mínimos benefícios que talvez cheguem às comunidades da Amazônia.

EMPRESÁRIO Nunca ouvi uma conversa mais estúpida que a deste padreco falando sozinho! Dizer que são mínimos os benefícios! E não lhes demos uma escolinha e uma quadra de futebol? Ingratos!… Você, padreco, não chegou até aqui sem a lancha que queima diesel!… E os índios andariam ainda pelados e comendo mandioca se não fosse pelo progresso que trouxemos a esta maldita selva!

PETRÓLEO Ouviu, Francisco? Assim pensam os empresários e muitíssima gente. Pensam que o progresso e o desenvolvimento dependem de mim. Não podem imaginar o mundo sem mim.

FRANCISCO E quando você acabar o que farão? Porque nada é eterno, só Deus.

PETRÓLEO Provavelmente, antes que me acabem, eu acabo com eles. Porque o calor e os gases que eu produzo vão arruinar o planeta.

FRANCISCO Diga-me uma coisa, petróleo… há outros lugares como este?

PETRÓLEO Um montão. Viaje à Venezuela, onde estão as maiores reservas. E ao Peru e à Colômbia e ao Equador e ao Brasil e à Bolívia… Estão rifando a Amazônia, como os bandidos quando repartem o butim… Até o Yasuní, um paraíso, a zona com mais variedade de vida no planeta, também o estão destruindo para extrair-me.

FRANCISCO E que solução você tem para esta tragédia, irmão Petróleo?

PETRÓLEO Que me deixem em paz. Que não extraiam nem mais um barril. Que não queimem nem mais um galão de gasolina.

FRANCISCO E de onde tirarão a energia de que necessitam?

PETRÓLEO Do ar, da água, do Sol, dos vulcões… energias limpas que não se acabam e não sujam. E precisam fazê-lo rápido, Francisco, muito rápido se quiserem salvar a única casa que eles têm no universo!

Diz o Papa Francisco em sua encíclica Laudato Si, Louvado Sejas:

Sabemos que a tecnologia baseada nos combustíveis fósseis –altamente poluentes, sobretudo o carvão mas também o petróleo e, em menor medida, o gás– deve ser, progressivamente e sem demora, substituída. Enquanto aguardamos por um amplo desenvolvimento das energias renováveis, que já deveria ter começado, é legítimo optar pela alternativa menos danosa ou recorrer a soluções transitórias… Se alguém observasse de fora a sociedade planetária, maravilhar-se-ia com tal comportamento que às vezes parece suicida. (Laudato Si 165, 55)

E disse o Papa Francisco no Encontro com os Movimentos Populares na Bolívia:

O mundo reclama de todos os governantes, preservar e melhorar o ambiente natural e vencer quanto antes o fenômeno da exclusão social e econômica, com suas tristes consequências de tráfico de seres humanos, comércio de órgãos e tecidos humanos, exploração sexual de crianças, trabalho escravo, incluindo a prostituição, tráfico de drogas e de armas, terrorismo e crime internacional organizado.

PERGUNTAS PARA O DEBATE

1- Poderíamos viver sem petróleo, sem carvão, sem gás?

2- Os poços de petróleo ajudaram o desenvolvimento dos países e das comunidades?

3- Governos de direita e os chamados progressistas extraem petróleo e exploram minas. Em que se diferenciam?