COMO NASCEU O AMOR?
A mulher é o único mamífero que não tem cio. Por quê?
CONTROLE UMA BALADA DE AMOR
POETA O amor é o sentimento mais puro e sublime de todos. É fogo divino, gérmen de toda poesia.
LOCUTORA O amor!… De onde vem, quem o infundiu em nossos corações?
LOCUTOR Uma moderna teoria antropológica nos da uma pista muito sugestiva.
CONTROLE MÚSICA NEW AGE
LOCUTORA Há um fato curioso: a mulher é o único mamífero que não tem cio.
LOCUTOR Nos três dias férteis entre uma menstruação e a seguinte, a mulher não dá nenhum sinal para indicar que pode ser fecundada.
EFEITO GATO MIANDO
LOCUTORA Quem tem uma gata ou uma cachorrinha sabe o que acontece durante a época do cio. A região genital emana um “aroma” que excita os machos das proximidades.
LOCUTOR Entre os mamíferos que vivem em manadas, estes odores provocam violentas lutas entre os machos.
LOCUTORA O dominante expulsa os competidores e fecunda as fêmeas que estejam no cio.
LOCUTOR Assim fazem os gorilas, os babuínos e outros macacos, nossos parentes.
EFEITO RUÍDOS DA SELVA
LOCUTORA Entre os babuínos, alguns machos jovens copulam com as fêmeas quando elas não estão férteis.
LOCUTOR Ao chegar o cio, o chefe se torna agressivo e afasta a todos os pretendentes. É o momento da reprodução, da transmissão do patrimônio genético.
CONTROLE MÚSICA NEW AGE
LOCUTORA Por que as mulheres não têm cio, se na natureza este sinal favorece a seleção dos melhor dotados?
LOCUTOR Retrocedamos a nossos antepassados, há uns 4 milhões de anos. As fêmeas daqueles hominídeos tinham cio, indicavam o momento adequado para fecundá-las.
LOCUTORA Imaginemos agora que neste grupo de hominídeos nasce uma fêmea com um defeito: o de não ter cio. O que aconteceria?
LOCUTOR Aconteceria que o macho dominante não se interessaria em acasalar-se com ela.
LOCUTORA Certamente, algum macho de menor categoria, sem encontrar oposição por parte do chefe, se uniria a fêmea desprezada.
LOCUTOR Aquela fêmea não tinha cio, mas era fértil. Por lei de herança, suas filhas nasceram com o mesmo defeito que ela: não ter cio.
LOCUTORA E precisamente por não tê-lo, estas fêmeas puderam distanciar-se do macho dominante e estabelecer relações com os outros machos do clã.
LOCUTOR Assim nasceram os primeiros casais estáveis.
LOCUTORA E muito provavelmente, esta foi a origem do amor. Porque rompida a ditadura do cio como sinal de acasalamento, os machos podiam prestar atenção em outros atributos da companheira.
LOCUTOR E as fêmeas, superado o dever de fecundação com o macho dominante, podiam escolher o companheiro que mais lhes agradava.
LOCUTORA Depois começaram os olhares e as caricias. Posteriormente veio o romance puro, a poesia sublime, e até a paixão de Romeo e Julieta.
LOCUTOR Mas nos primórdios, talvez foi algo tão simples como a ausência de odores durante a ovulação o que promoveu um aroma melhor, isso que hoje chamamos amor.
Owen Lovejoy, Evolution of human walking, Scientific American, 1988.