MAU COM GADAFI, PIOR COM A OTAN

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“Desejo para a Líbia algo melhor que Gadafi, mas a bota estrangeira e assassina que a humilhe desejo-lhe um Vietnã”, Silvio Rodríguez.

Gadafi impôs sua liderança na Líbia durante 42 anos. Nem ele nem ninguém pode governar tanto tempo sem que o poder lhe suba à cabeça, o poder absoluto que corrompe absolutamente.

Mau com Gadafi, pior com a OTAN. Isto porque a aliança militar dos Estados Unidos e das potências européias colocaram fantoches a seu serviço nos países que invadiram. A lista seria interminável. Basta mencionar a Al Maliki no Iraque ou Karzai no Afeganistão. Qual será o nome do futuro fantoche da Líbia, imposto pela OTAN? Mustafá Abdel-Jalil, chefe do Conselho Nacional de Transição? Ou talvez o filho do último monarca da Líbia, o rei Idris, para regozijo da dinastia ultraconservadora da Arábia Saudita?

Gadafi ordenou assassinar na prisão de Abu Salim a mais de mil jovens que protestavam contra seu regime. Mandou reprimir brutalmente os rebeldes de Bengasi. Ordenou bombardear Misrata. Disparou contra seu povo.

Mau com Gadafi, pior com a OTAN. Porque a OTAN violou a resolução 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas que somente permitia uma zona de exclusão aérea sobre a Líbia. Quem autorizou a OTAN a intervir militarmente em um país soberano, quem autorizou os 20 mil ataques aéreos dos aviões franceses, ingleses e estado-unidenses? Quantos civis morreram por causa destes bombardeios sobre solo líbio? Só em Trípoli, em 21 de agosto, calcula-se 1.300 civis mortos e 5 mil feridos.

Gadafi ha cometeu crimes de lesa humanidade e por eles é requerido pelo Tribunal Penal Internacional. E como se chamam os crimes cometidos pelos aviões da OTAN, os “danos colaterais” provocados por suas “bombas inteligentes”? Por que o fiscal do Tribunal Penal Internacional não chama a juízo o comandante da OTAN para prestar contas por estes crimes tão monstruosos como os cometidos por Gadafi? Por que não chama a Obama, a Sarkozy, a Cameron, a Berlusconi, responsáveis dos bombardeios e da violação da soberania líbia? Mau com Gadafi, pior com a OTAN.

Gadafi traiu sua própria revolução nacionalista. Apropriou-se das riquezas da Líbia e as pôs a seu nome e no de sua família em bancos estrangeiros. Pelo que se sabe, os bens de Gadafi na Inglaterra ascendem a 16 bilhões. Nos Estados Unidos, a 32 bilhões. Na Suíça, na Itália… Cálculos conservadores falam de uma fortuna fora da Líbia de 120 bilhões de dólares entre depósitos bancários e ações empresariais.

Mau com Gadafi, pior com a OTAN. Os Estados Unidos e os países europeus congelaram estas imensas riquezas do povo líbio usurpadas por Gadafi. As devolverão? Ou serão botins de guerra? Nestes tempos de crise financeira, não farão os bancos dos países ricos o mesmo passe de mágica que fizeram depois da Segunda Guerra para ficar com as imensas fortunas depositadas em seus bóvedas?

Gadafi acumulou no Banco Central da Líbia 144 toneladas de ouro puro, lingotes de ouro que podem ser investidos para melhorar o nível de vida de seu povo.

Mau com Gadafi, pior com a OTAN. Para que mãos irão essas 144 toneladas de ouro? Os países da OTAN já esfregam as mãos.

Gadafi acumulou uma fortuna fabulosa com o milhão e meio de barris de petróleo que exportava diariamente. Quem controlará agora a produção do petróleo líbio? ¿Que transnacionais entrarão como abutres para apoderar-se desta riqueza? Não se repetirá a vergonhosa história do petróleo do Iraque? Exxon, Total, British Petroleum e todos os gigantes petroleiros ocidentais serán recompensados com gratidão pelo Conselho Nacional de Transição, fechando o caminho para as companhias chinesas, russas ou indianas. Em todo caso, as tropas da OTAN, que sem dúvida permanecerão no terreno, ajudarão a manter bem disciplinado o novo governo imposto na Líbia. Mau com Gadafi, pior com a OTAN.

Gadafi há muitos anos traiu a luta dos povos árabes, em especial dos palestinos. Em 1996, expulsou 30 mil palestinos de seu país. Há muitos anos fez as pazes com os Estados Unidos e os imperialismos europeus, submetendo-se a suas exigências e convertendo-se em seu melhor aliado e um de seus mais importantes sócios petroleiros. Desde há muitos anos financiou aos piores ditadores africanos.

Mau com Gadafi, pior com a OTAN. Porque os Estados Unidos e os países europeus o que buscam, mais que o petróleo líbio que já está em suas mãos, é estabelecer o chamado AFRICOM, o Comando Militar dos Estados Unidos para África, atualmente localizado na Alemanha. Um posto avançado para lançar suas operações militares e controlar os recursos não só da Líbia, mas de todo o continente africano. Trata-se de converter o Mediterrâneo em um lago da OTAN. O que espera a Líbia não é a democracia, mas um protetorado gringo-europeu.

A Líbia não quis ser a fazenda de Gadafi. Mas muito menos o quintal dos fundos da Europa ou dos Estados Unidos.

RADIALISTAS se soma a tantas vozes cidadãs que rechaçam a intervenção militar na Líbia e a intolerável violação de sua soberania. Fazemos nossas as palavras de Silvio Rodríguez: " Desejo para a Líbia algo melhor que Gadafi, mas a bota estrangeira e assassina que a humilhe desejo-lhe um Vietnã ". 

BIBLIOGRAFÍA
Atilio Borón, ¿Líbia: sangre, sudor y lágrimas?

http://www.kaosenlared.net/noticia/líbia-sangre-sudor-y-lagrimas

Pepe Escobar, Bienvenidos a la “democracia” en Líbia

http://rebelion.org/noticia.php?id=134526