O QUE SÃO OS MEIOS PÚBLICOS? (1)
Nem propagandista, nem elitista, nem dependente unicamente de fundos estatais…
JORNALISTA Senhora, o que é um meio de serviço público?
MULHER Serviços públicos não tem por aqui… Mas peça para o dono do bar que ele deixa o senhor usar.
Este jornalista da nova rádio pública do Equador não conseguia que sua entrevistada entendesse o conceito de um meio de comunicação público.
Como no Equador, na maioria dos países de América Latina e do Caribe quase não há experiências de meios públicos. Nem sequer o nome é familiar. E é lógico que seja assim. Por aqui copiamos o modelo comercial norte-americano que nos fez acreditar que os meios de comunicação devem ser empresas privadas. Empresas com fins lucrativos.
Tanto se desconhece, que se confunde um meio público com um meio governamental. Isto é, uma rádio ou uma emissora de TV para fazer propaganda do governo vigente.
Outra confusão grave é achar que estes meios devem ser “culturais”. Mas entendendo a cultura da forma mais tradicional. A primeira rádio pública do Equador tocava música clássica o dia inteiro para “culturalizar” a sua escassa audiência… Como se a música nacional ou a música latino-americana ou a música juvenil não fosse tão culta como qualquer outra! O resultado era uma rádio pública sem público.
Uma terceira confusão a respeito dos meios públicos é que estes não passam nem devem passar publicidade. Que devem contentar-se com o que o Estado lhes atribui. Quem disse, quem ordenou isso? Se temos algo a assegurar nos meios públicos é sua independência de controles comerciais ou políticos, como estabelece o código da BBC. E esta independência dificilmente se consegue sem contar com recursos próprios.
Já que mencionamos a BBC, este meio público nos dá um bom exemplo do que significa independência editorial. Esta independência foi posta a prova na época da guerra do Iraque. O então presidente da BBC, Gavyn Davies, enfrentou-se com o governo de Tony Blair, cúmplice de Bush, que havia falsificado as provas das famosas armas de destruição massiva. Tony Blair quis dobrar a linha de não intervenção da BBC e estrangulá-la economicamente. Não conseguiu porque a cadeia, embora receba fundos do Parlamento Britânico, se financia em maior medida com os 168 euros que pagam a cada ano os lares ingleses por fazer uso de seus televisores. A independência política é indissociável da econômica.
Nem propagandista, nem elitista, nem dependente unicamente de fundos estatais. Qual é, então, a essência de um meio público?
Vejamos o que vem ocorrendo na Espanha nestes meses. Nasceu sem prévio aviso um meio público na Puerta del Sol, iam Madrid. Uma multidão de emissoras sem antenas com 50 repetidoras em 50 cidades provinciais. Milhares de jovens, e não tão jovens, marcaram reuniões na praça central da capital espanhola para debater, para fazer ouvir suas vozes, para demonstrar como estavam cabreiros com uns políticos que não lhes representam e contra uns banqueiros que lhes deram o calote. E este meio público era coordenado através das redes sociais, de infinidade de correspondentes espontâneos que informam e dão as primícias com maior rapidez e efetividade que qualquer jornalista de El País ou El Mundo.
Creio que não há melhor símbolo para definir o que pode e deve ser uma rádio pública, uma televisão pública, que esta rebelião da digna juventude espanhola. E por digna, indignada.
Nos clips seguintes conheceremos as três características fundamentais que definem um meio de comunicação público. E enquanto isso, que siga a indignação na Espanha, em Wall Street, na Grécia, nos países árabes…
Revise Meios públicos (2)