Pobres gatos!
Uma benção do céu que mata os ratos e afugenta as cobras!
CONTROLE MÚSICA EGÍPCIA
LOCUTOR A história do gato começa no antigo Egito.
EFEITO MIADO
LOCUTORA Há uns cinco mil anos, os egípcios cultivavam trigo e outros cereais e os guardavam em grandes depósitos junto ao rio Nilo.
LOCUTOR Estes armazéns atraiam ratos e camundongos que comiam boa parte dos grãos.
EFEITO MIADOS
LOCUTORA Até que chegou um animal desconhecido, de longos bigodes e olhos penetrantes, que se converteu no pesadelo dos roedores…
EGÍPCIO Uma benção do céu que mata os ratos e afugenta as cobras!
LOCUTORA A chegada de gatos silvestres foi interpretada como um presente divino.
CONTROLE MÚSICA EGÍPCIA
LOCUTOR No Egito, os gatos foram considerados como a reencarnação dos deuses.
LOCUTORA Especialmente, da deusa Bastet, representada com cabeça de gato, admirada por sua beleza, elegância e fecundidade.
EFEITO MIADOS
MULHER Vem, mimi, vem comer…
LOCUTOR Cada casa egípcia tinha seu gato protetor. Em caso de incêndio, salvava-se primeiro o gato e se morria entre as chamas, a família sobrevivente se cobria de cinza e percorria as ruas pregando sua culpabilidade.
EFEITO CHORO
LOCUTORA O gato era tão importante na família que, quando morria, se celebrava um autêntico luto. O animal era embalsamado e mumificado.
LOCUTOR Em sinal de dor, seus donos raspavam as sobrancelhas.
PREGONERO Decreto do faraó. Quem matar um gato, mesmo que seja de forma involuntária, será sentenciado à pena de morte. O culpado será lapidado pelo povo.
LOCUTORA Na cidade egípcia de Bubastis foi encontrado um cemitério com 300 mil múmias de gatos.
CONTROLE MÚSICA ANTIGA
LOCUTOR Os primeiros gatos foram domesticados no Egito.
HOMEM Agarre-o, não o deixe escapar! (MIADOS)
LOCUTORA Dizem que foram os mercadores fenícios que conseguiram roubar um casal de gatos, já que no país dos faraós estava proibidíssimo vendê-los.
LOCUTOR E assim, se estenderam pelos países mediterrâneos e por toda Europa.
MULHER Coloque o mimi perto do guarda-comida para que espante os ratos.
LOCUTORA Seja como mascotes caseiros ou como caçadores de ratos, os gatos foram muito apreciados tanto na Grécia como em Roma.
LOCUTOR Também na Índia e na China.
EFEITO MIADO FELIZ
LOCUTORA Os gatos foram felizes até que a igreja católica, em meados do século 13, começou uma cruel perseguição contra eles.
PADRE Não são animais, são bruxas que se transformam em gatos negros.
LOCUTORA A igreja considerou os gatos como encarnações do diabo.
PADRE Queime-os, queime-os a todos!
LOCUTOR Os gatos foram queimados vivos na praça pública, empalados, pregados, esquartejados… atirados desde o alto dos campanários.
PADRE Que não sobre uma bruxa viva nem estas criações do demônio que são seus gatos.
LOCUTORA A Igreja alentou tanto a perseguição dos gatos que a queima destes animais nas fogueiras da noite de São João se converteu em um divertido espetáculo.
HOMEM Vamos matar os gatos, lance-os na fogueira!
CONTROLE MÚSICA FUNEBRE
LOCUTOR O aniquilamento de gatos foi tão grande que, quando a peste negra assolou a Europa no século 14, causando 25 milhões de mortos, quase não havia gatos para combater os ratos que eram os causadores e transmissores da doença.
LOCUTORA A inícios do século 15, a espécie esteve a ponto de extinguir-se pela ignorância e o fanatismo dos cristãos que ficavam procurando cinco pés no gato.
LOCUTOR Mas como dizem que os gatos têm sete vidas, sobreviveram à ignorância e ao fanatismo daqueles cristãos.
LOCUTORA A partir do século 17, começou novamente a se estimar os gatos como caçadores e o melhor antídoto contra ratos e camundongos, causadores de tantas doenças.
LOCUTOR Hoje, os gatos juntos com os cachorros, são a melhor companhia dos seres humanos.
Mercedes Compte, Las supersticiones, Añil, Madrid 1999.