TÃO INSUFICIENTE

Radioclip en texto sin audio grabado.

Poema de Patricia Karina Vergara Sánchez, feminista, jornalista e professora mexicana.

Esta é minha fúria, cor verde ocre, amarga.
Esta é minha ira, que punça, inclemente.
Que se ofende contra estas letras indignas.
Palavras torpes para nomeá-las.

Por que Du’a, era muito jovem e estava sozinha.
Eram quarenta, cinquenta homens que a rodearam.
Lhe espancaram, arrancaram sua roupa, lançaram pedras em seu rosto.

Porque quando deixou de respirar, eles gritaram triunfantes.
Gravaram em vídeo, com telefone celular,
o fiozinho de sangue que corria sobre o pavimento.

Porque Sali era uma viajante, com seu andar livre pela terra.
Mas aquele homem feriu seu corpo e deteve seu passo no tempo.

Porque faz três dias Alí foi assassinada.
Usou uma faca contra ela, aquele, que dizia amá-la.

Porque Iris tinha sete anos quando a levaram.
Porque sua mãe encontrou o corpinho de sua filha
em uma lata para lixo.

Esta é minha fúria tonta; minha raiva negra, roxa, que não basta.
Porque são, porque somos, muitas.
As próximas, as que estão longe, as amigas, as cúmplices,
as que fazem, as que rompem, as companheiras e as que não.

Porque é uma morte infame.
Três minutos indignos no noticiário de hoje.
Um par de dias, a indiferença, a injustiça absoluta.

Quem fosse o urro ressonante em todo espaço acústico.
Quem chamasse no vento, com voz potente,
a todas as que se foram: A Marisela, a Letícia, a Márcia, a Sara.
Até que ninguém possa negar a escuta.
Até que ninguém possa continuar vivendo, como se nada tivesse ocorrido.
Quem fosse o punho que se lance contra a rocha, poderoso, incansável.
Quem gravasse, inapagável, a golpe de presente constante,
os nomes de Victoria, de Emilia, de Martha, de Jasmín, de Natalia.
Quem a força para o combate contra o esquecimento.
Quem o castigo a todos os malditos.

No entanto, respiro esta fúria
No entanto, me alimento desta raiva
Porque este ofício de escritora basta apenas
para este humilde dar testemunho do pesadelo cotidiano.

BIBLIOGRAFÍA
Poema de Patricia Karina Vergara Sánchez, feminista, jornalista e professora mexicana. http://www.mujeresnet.info/2011/03/retumba-poema.html