PINTAR COM PALAVRAS
É o que em literatura se denomina “descrever”. E que em nosso meio chamamos de “imagens auditivas”.
Quais são as melhores palavras para falar por rádio, as expressões comunicam mais? Aquelas que se podem ver, cheirar, tocar e saborear, as que entram pelos sentidos e vão direto à imaginação.
Por exemplo:
Nessa comunidade faltam os serviços básicos.
Esta frase é correta e bastante clara. Mas não “vejo” nada com ela. Não posso imaginar nada com ela.
Mudemos esse conceito frio de serviços básicos:
Nessa comunidade falta água, luz e ruas.
Nesta outra frase a mente tem onde repousar. Porque a água se bebe, a luz se vê, as ruas se percorrem. São palavras concretas, materiais. São palavras vivas, que se projetam e se movem em nossa tela interior.
Um outro exemplo. Eu posso dizer:
No curso há muitos latino-americanos e latino-americanas.
Perfeito, todo mundo entenderá. Inclusive foi empregada uma linguagem inclusiva, não sexista. Mas podemos ensaiar outra maneira mais imaginativa de dizer o mesmo:
No curso há peruanas e panamenhos, colombianos e chilenas, do Brasil brasileiro e do México lindo… De toda América Latina!
Os sovinas do relógio já estão protestando, porque se falarmos assim perderemos muito tempo. E quem disse que a meta radiofônica é economizar tempo? Tempo para quê? Mais vale uma ameixa doce que uma cesta insípida. O que temos que ganhar não é o tempo, mas a imaginação do ouvinte.
Vejamos outro exemplo:
Essa menina faz tudo na casa.
É uma frase curta e clara. Mas não sugere muito, falta cor. Adicionemos verbos concretos:
Essa menina lava, passa, cozinha, cuida dos irmãozinhos…
Agora estamos “vendo” a lida da garota. Adicionemos substantivos nesses verbos:
Essa menina lava pratos, passa as camisas, cozinha o feijão…
E adjetivos aos substantivos:
Essa menina lava uma torre de pratos gordurentos, passa as camisas brancas para o senhorzinho…
Quanto mais elementos materiais proporcionamos, melhor o ouvinte pode representar a situação.
Aprenda a “pintar com palavras”. É isso o que me literatura se denomina “descrever”. E o que em nosso meio chamamos “imagens auditivas”.