A MORTE DE UM CANALHA

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Os canalhas vivem muito, mas algum dia morrem.

O genocida Jorge Rafael Videla morreu ontem aos 87 anos na cadeia de Marcos Paz, perto de Buenos Aires. Cumpria prisão perpétua por delitos de lesa humanidade.

Ao longo dos dez anos que passou sob prisão domiciliar e outros dez encarcerado, Videla nunca mostrou arrependimento nem pediu perdão por nada. Não o fez por nenhum dos 30.000 desaparecidos e desaparecidas durante a ditadura militar (1976-1983), nem por algum dos 400 bebês roubados nos centros de tortura. Se considerava um “preso político” que cumpriu com o “dever castrense” de combater “o terrorismo”.

Já morreu. Um canalha a menos neste mundo. E nos vem a mente um poema de Mario Benedetti que leva por título Obituário com Hurras. Mario o escreveu em 1963. Mas parece escrito hoje e dedicado a um dos piores seres humanos que nasceu na América Latina.

OBITUÁRIO COM HURRAS

Vamos festejar

venham todos

os inocentes

os maltratados

os que gritam de noite

os que sonham de dia

os que sofrem do corpo

os que alojam fantasmas

os que pisam descalços

os que blasfemam e ardem

os pobres congelados

os que gostam de alguém

os que nunca se esquecem

vamos festejar

venham todos

o crápula morreu

se acabou a alma negra

o ladrão

o indecente

se acabou para sempre

hurra

que venham todos

vamos festejar

a não dizer

a morte

sempre apaga tudo

tudo purifica

qualquer dia

a morte

não apaga nada

ficam

sempre as cicatrizes

hurra

morreu o cretino

vamos festejar

a não chorar de vício

que chorem seus iguais

e engulam suas lágrimas

se acabou o monstro prócer

se acabou para sempre

vamos festejar

a não ficar mornos

a não crer que este

é um morto qualquer

vamos festejar

a não tornarmos frouxos

a não esquecer que este

é um morto de merda .