A MORTE DE UM CANALHA
Os canalhas vivem muito, mas algum dia morrem.
Ao longo dos dez anos que passou sob prisão domiciliar e outros dez encarcerado, Videla nunca mostrou arrependimento nem pediu perdão por nada. Não o fez por nenhum dos 30.000 desaparecidos e desaparecidas durante a ditadura militar (1976-1983), nem por algum dos 400 bebês roubados nos centros de tortura. Se considerava um “preso político” que cumpriu com o “dever castrense” de combater “o terrorismo”.
Já morreu. Um canalha a menos neste mundo. E nos vem a mente um poema de Mario Benedetti que leva por título Obituário com Hurras. Mario o escreveu em 1963. Mas parece escrito hoje e dedicado a um dos piores seres humanos que nasceu na América Latina.
Vamos festejar
venham todos
os inocentes
os maltratados
os que gritam de noite
os que sonham de dia
os que sofrem do corpo
os que alojam fantasmas
os que pisam descalços
os que blasfemam e ardem
os pobres congelados
os que gostam de alguém
os que nunca se esquecem
vamos festejar
venham todos
o crápula morreu
se acabou a alma negra
o ladrão
o indecente
se acabou para sempre
hurra
que venham todos
vamos festejar
a não dizer
a morte
sempre apaga tudo
tudo purifica
qualquer dia
a morte
não apaga nada
ficam
sempre as cicatrizes
hurra
morreu o cretino
vamos festejar
a não chorar de vício
que chorem seus iguais
e engulam suas lágrimas
se acabou o monstro prócer
se acabou para sempre
vamos festejar
a não ficar mornos
a não crer que este
é um morto qualquer
vamos festejar
a não tornarmos frouxos
a não esquecer que este
é um morto de merda .