CARTAS DRAMATIZADAS
Um recurso fácil e atrativo para dinamizar as cartas que recebemos.
Na rádio, especialmente nos programas de revistas, recebemos muitas cartas. Umas chegam em papel, outras por correio eletrônico. Também gravamos testemunhos quando vamos a uma comunidade ou quando os ouvintes chegam à emissora.
Além de ler essas cartas ou de colocar estes testemunhos no ar, o que mais podemos fazer? Por que não nos animamos a dramatizar o que nos contam?
Como se dramatiza uma carta ou uma entrevista gravada? É muito simples. Sem dúvida, a condição indispensável é que a carta ou a entrevista narre ou denuncie algo. Se forem só opiniões, se forem idéias ou discursos, se não tiver “ação”, não poderemos dramatizar nada.
Eleita a carta ou o testemunho, iremos intercalando pequenas cenas que ilustram o que é relatado. O texto da carta ou a voz que dá o testemunho nos servirá como fio condutor, como “narração” entre as cenas. Estes textos ou vozes que narram podem ser apoiados com música de fundo.
Imaginemos uma carta como esta:
Querida locutora da Rádio Vozes de Mulheres:
Sou uma fiel ouvinte de seu programa e quero lhe contar o que está acontecendo com meu marido. Porque quando recebe a quinzena, em vez de trazer o dinheiro para casa, para a comida de seus filhos, vai direto pro bar e lá se junta com seus colegas, tão bêbados e sem-vergonhas como ele, e gasta tudo o que ganhou bebendo e bebendo. E depois chega à meia-noite, esmurrando a porta. Meus dois filhinhos se assustam porque são pequenos. E o pior é que, quando lhe abro a porta, entra feito um imperador e me insulta se não tem nada para comer. Mas, com que dinheiro lhe preparo comida se não me deixa nem um centavo para comprar um pão? Se reclamo, grita comigo e até me bate. O que faço, senhorita? Ouvindo seu programa eu aprendi meus direitos como mulher e queria sair desta casa com meus filhos. Mas, para onde eu vou? Já não suporto seu machismo, mas não tenho aonde ir. O que me aconselha? Pergunto isso porque não tenho ninguém que me aconselhe. Assinado: Jacinta Martínez.
Esta carta (que poderia ser mais extensa) é facilmente dramatizável. Podemos adaptar assim:
CONTROLE MÚSICA AMBIENTAL
NARRADORA Querida locutora da Rádio Vozes de Mulheres:
Sou uma fiel ouvinte de seu programa e quero lhe contar o que está acontecendo com meu marido. Porque quando recebe a quinzena, em vez de trazer o dinheiro para casa, para a comida de seus filhos, vai direto pro bar…
EFEITO AMBIENTE BOTECO
UMA CENA BREVE DE UM MINUTO DE TRÊS HOMENS RINDO E BEBENDO
NARRADORA …E lá se junta com seus colegas, tão bêbados e sem-vergonhas como ele, e gasta tudo o que ganhou bebendo e bebendo.
EFEITO GRILOS E PASSOS CENA BREVE SAINDO BÊBADOS DO BAR GOLPES NA PORTA, GRITOS DE CRIANÇAS
NARRADORA E depois chega à meia-noite, esmurrando a porta. Meus dois filhinhos se assustam porque são pequenos. E o pior é que, quando lhe abro a porta, entra feito um imperador e me insulta se não tem nada para comer. Mas, com que dinheiro lhe preparo comida se não me deixa nem um centavo para comprar um pão?
EFEITO CENA DO MARIDO VIOLENTO EXIGINDO COMIDA E A MULHER QUE PROTESTA
NARRADORA Se reclamo, grita comigo e até me bate.
EFEITO CENA BREVE DE GRITOS E GOLPES
NARRADORA O que faço, senhorita? Ouvindo seu programa eu aprendi meus direitos como mulher e queria sair desta casa com meus filhos. Mas, para onde eu vou? Já não suporto seu machismo, mas não tenho aonde ir. O que me aconselha? Pergunto a você porque não tenho ninguém me aconselhe. Assinado. Jacinta Martínez.
CONTROLE MÚSICA DRAMÁTICA
O mesmo podemos fazer com um testemunho, com uma entrevista gravada. A produção é muito simples, porque não tem que fazer o libreto das cenas, e só ir intercalando. Reúna alguns colegas da emissora, lhes marque o papel que vão atuar, e grave de forma meio improvisada, ao estilo dos sóciodramas.
No teu programa, depois de levar ao ar uma carta dramatizada, não coloque música. Aproveite o recurso que você elaborou fazendo um comentário, ou com uma entrevista referente à violência doméstica, ou com uma mesa redonda na qual se explique as razões desta violência. Tuas opiniões e as de teus convidados e convidadas serão o melhor conselho para a amiga que escreveu.