LIBERTADORA DO LIBERTADOR (3)
Manuela Sáenz morreu de difteria em 23 de novembro de 1856.
CONTROL MÚSICA DRAMÁTICA
LOCUTOR Foi na noite de 25 setembro de 1828. Os amotinados, partidários de Santander, entraram ao palácio de San Carlos matando os centinelas.
REBELDE Morra Boliva, abaixo o tirano!
EFEITO GRITARIA E TOQUES DE PORTA
LOCUTOR Chegaram à alcova de Boliva e se toparam com Manuela.
EFEITO ABRE PORTA
REBELDE Entregue-nos Boliva.
MANUELA Pois aqui não está. Busquem-no.
REBELDE Maldita seja, onde se meteu…?
LOCUTOR Os intrusos rebuscaram na alcova, nos quartos adjacentes, por todas partes… No final, com sorriso de triunfo, Manuelita abriu a janela de seu quarto:
MANUELA Vejam, idiotas, por aqui escapou. Agora, se querem, matem a mím
LOCUTORA Mas conjurados fugiram e Boliva voltou ao palácio do governo.
TODOS ¡Viva Bolívar! ¡Abajo los traidores!
BOLÍVAR Minha Manuela… Se eu sou o Libertador… tu ereis a Libertadora do Libertador.
CONTROL MÚSICA EMOTIVA
LOCUTOR Mas as rebeliões continuavam e a saúde de Boliva estava muito deteriorada. Em janeiro de 1830 renunciou à presidência e empreendeu o caminho sem retorno a Santa Marta.
BOLIVA Se minha morte contribui a que parem os partidos e se consolide a união baixarei tranquilo ao sepulcro.
LOCUTORA Se correu o rumor de que Boliva estava agonizando.
EFEITO GALOPE SE DISTANCIA
LOCUTOR Manuelita baixou a galope para o vale da Magdalena. A meio caminho, recebeu uma carta com a notícia de sua morte.
CONTROL MÚSICA TRISTE
LOCUTORA Morto Boliva, o desprezo e a perseguição para ela se desbordaram. Santander a expulsou da Colômbia. Manuelita viajou a Jamaica e daí a Guayaquil. Tão pouco de governo equatoriano a queria em seu território.
MANUELA Que me importa!… Eu nasci na linha do Equador. Meu país é o continente da América.
LOCUTOR A detiveram quando se dirigia a Quito e a desterraram a um povo esquecido no deserto peruano.
CONTROL MÚSICA EMOTIVA
EFEITO VENTO
NARRADORA O porto de Paita. Uma só rua e um muelle aos que chegam barcos baleeiros.
VELHO Como está minha louca linda, Manuelita?
MANUELA E que vento o traz por aqui, dom Simão?
NARRADORA Simão Rodríguez, o mestre de Boliva, vem a conversar com ela de tantas aventuras compartilhadas.
VELHO Estou vendendo velas. Se não puderia iluminar à juventude da América nas escolas, pelo menos que tenham luz com minhas velas.
NARRADORA Durante 19 anos, Manuela Sáenz, vende tabacos e doces em Paita. Quando o sol se esconde atrás do mar, fica com os olhos perdidos no horizonte. Já inválida, suas mãos acariciam um cofre de prata. Dentro estão as cartas que Boliva lhe havia enviado durante os 8 anos que viveu com ele.
BOLIVA (ECO) Tu estarás sóa, Manuela. E eu estarei só, em meio do mundo. Não haverá mais consolo que a glória de havernos vencido.
CONTROL MÚSICA EMOTIVA
NARRADORA Manuela Sáenz morreu de difteria em 23 de novembro de 1856. Em sua pequena e abandonada casa de Paita, todavia pode ver-se uma placa de mármore branco:
LOCUTOR Aqui viveu a Libertadora do Libertador.
Salvador de Madariaga, Bolívar, Espasa Calpe, Madrid 1975. Germán Arciniegas, Las Mujeres y las Horas, Andrés Bello, Santiago de Chile 1986. Eduardo Galeano, Memoria del Fuego II, Siglo XXI, Madrid 1984.