O ESBOÇO DO FUTURO

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Uma mensagem a juventude de Camila Vallejo.

Hoje, Dia Internacional da Juventude, nosso coração está com os valentes estudantes chilenos que continuam nas ruas reclamando o direito a uma educação gratuita e de qualidade. E com os rebeldes mexicanos, os do #Eu Sou132, que rodearam as instalações da Televisa denunciando a fraude eleitoral sob o lema NOSSOS SONHOS NÃO CABEM EM TUA TELA. E com a juventude indignada da Espanha que se mobiliza gritando ISTO NÃO É UMA CRISE, É UM CALOTE. E com a juventude de Montreal, a da Grécia, a do Egito… jovens ao longo do amplo planeta, fartos das mentiras neoliberais.

Hoje não lhes enviamos um programa gravado, mas uma carta para que vocês a gravem e transmitam na programação de 12 de agosto. A carta que escreveu essa jovem lutadora chilena Camila Vallejos em seu regresso do México.

Nunca imaginei, depois de tantos meses de preparação o que significaria esta breve visita as terras de Zapata e Pancho Villa. É que cada palavra de alento, cada sorriso entusiasta, cada abraço fraterno e a amável companhia dos estudantes mexicanos, me encheram de júbilo e me fizeram ver a imensidão dos corações de homens e mulheres desta pátria grande que é a América Latina.

Desde cada espaço de encontro na Universidade e as praças públicas, surgiram rostos e palavras cheias de brilho e significados, mensagens que nos levam a nos reconhecer como iguais, impetuosos e rebeldes ante um mundo que nos chama a mudá-lo pela raiz.

Somos estudantes, somos jovens latino-americanos e nos reencontramos como se tivéssemos compartilhado o mesmo berço, vivendo as mesmas histórias. E claro, tem somado aos nossos olhos a intolerável desigualdade, a injustiça aplicada em nossas relações humanas pelo poder espúrio, o extermínio de nossas culturas, a violência aguda e estrutural, quase crônica de uma sociedade enferma que herdamos sem que quiséssemos vivê-la.

Tanto vocês como nós temos presenciado durante muito tempo como a política anquilosada em interesses corporativos e econômicos renunciou as mudanças sociais. Uma política sequestrada pelas diretrizes do mercado ultraliberal, da corrupção, do egoísmo, manipuladora de complexas ferramentas de coerção social e comunicacionais, abandonando toda ética e veracidade.

Temos visto como formas institucionalizadas de fazer política, se encarregam de manter e defender a todo custo um modelo inumano e desumanizante, centrado no lucro e não na vida, construído a partir do individualismo e da competição, sem valores e sem um “nós”, sem o entendimento coletivo. Um modelo que absorve, que consome, que nos esmaga nos impondo a ignorância, que nos despoja de nossos direitos, de nossa liberdade e nossa dignidade.

Os estudantes mexicanos e chilenos também têm visto como cada vez que alguns se levantam para destapar esta crua realidade, denunciar seus responsáveis, temos que viver ou presenciar como tratam de nos calar com detenções arbitrárias, sequestros, assassinatos e torturas.

Têm nos obrigado a calar o sofrimento e a dor de nossos irmãos e irmãs. Têm obrigado a muitos jovens a se educar na desmemoria, a esquecer, negando o passado e a nos identificar como entes sem história, a nos ver como alheios e inimigos.

Mas não se deram conta que da dor e da desigualdade se aduba o espírito jovem da luta pela humanidade, que da história inevitavelmente floresce a dignidade e a coragem de seus filhos que, ainda que provenientes de diferentes cantos do mundo, lutamos para que sejamos todos reconhecidos e tratados como seres humanos.

A consciência sobre as perversidades do modelo neoliberal, o deterioro da política “tradicional” e a manipulação dos meios de comunicação, irrompeu com força graças a esta juventude. Mas hoje a tarefa é maior e adquire um sentido de urgência, temos que passar do grito à proposta e tornar nossas ações coerentes com nossa palavra.

Hoje só temos o esboço do futuro que queremos construir, nossa tarefa será trabalhá-lo dia-a-dia, em nossa diversidade, levando-o às escolas, praças, universidades, ruas, lugares de trabalho, nutrindo-o com nossos pais e nossas mães, com nossos avôs, com o povo. Impeçamos que nos voltem a surpreender no caminho triviais diferenças, e ponhamos a unidade como principal fortaleza ante um sistema e um regime injusto que condena à pobreza muitos para sustentar o privilégio de uns poucos.

Nossos povos têm chorado e continuam chorando sangue, e quem mais do que vocês sabem como se vive dia-a-dia desse modo? Mas daí surge a contradição mais bela que é a de um povo que, ainda ensanguentado, prepara a necessária unidade para o amanhecer de uma nova América Latina.

Vocês têm demonstrado que a cada dia são mais numerosas as mãos e as vozes, nos encarreguemos agora de que a cada dia sejam mais as ações e os passos dados no caminho até a construção de um futuro emancipador. Não deixemos que nossa luta passe inadvertida.

Um forte abraço aos jovens e ao povo mexicano.

Camila Vallejo Dowling

BIBLIOGRAFÍA
Un saludo México