OS ESTRELAS (1)

Radioclip en texto sin audio grabado.

Uma série sobre os diferentes tipos de entrevistadores e entrevistadoras que encontramos nas emissoras.

Uma doença muito comum entre os jornalistas é o “umbiguismo”. Sentem como se fossem o centro do mundo, se enchem como pavões quando têm um microfone na frente, acham que são estrelas.

Estes vaidosos, estas metidas, falam mais que o entrevistado. Na realidade, a entrevista lhes importa pouco e o entrevistado menos ainda. Eles querem irradiar a voz, chamar a atenção, pôr-se em primeiro plano, demonstrar o muito que sabem.

ENTREVISTADOR Indubitavelmente, a crise global que estamos atravessando entranha muitas causas, fatores que poderiam dividir-se em sociais, políticos e culturais e que incidem, fundamentalmente, nos setores C e D da população. Muito bem, levando em conta os altos preços do cru no mercado internacional e sem descuidar das repercussões sócio-políticas do recente crack imobiliário na bolsa norte-americana…

ALGUÉM Cala a boca, o babaca!


Seja breve em tuas perguntas. Deixe a pessoa que você está entrevistando falar. Ela é quem protagoniza a entrevista e não você.

Outro defeito típico dos “estrelas” é ficar qualificando as respostas do entrevistado.

ENTREVISTADORA Muito bem, muito bem!
Exatamente.
É isso mesmo. Isso mesmo.
Muito interessante o que você disse.
É lógico, claro que sim.

Quando os “estrelas” entrevistam uma pessoa simples, do povo, adotam uma atitude de superioridade insuportável. Um tom paternalista. Ou maternalista. Acham que assim se tornam mais “populares”. No fundo, desprezam as pessoas, se sentem superiores.

A verdadeira popularidade é sentir-se de igual para igual. Nem mais importante nem menos importante que ninguém. Essa é a atitude democrática que precisamos nas rádios cidadãs.

Outra característica típica destes colegas petulantes é que sempre falam em primeira pessoa (EU):

ENTREVISTADOR Eu agradeço suas palavras que me parecem muito oportunas e confirmam o que eu mesmo pensava a respeito.

Não podemos esquecer que os entrevistadores e entrevistadoras são representantes dos ouvintes. Fazem as perguntas que os ouvintes gostariam de fazer. Por isso, um bom jornalista, salvo em seus comentários pessoais, fala no plural (NÓS).

Pobres “estrelas”. Costumam acabar estrelados.

BIBLIOGRAFÍA
ALER, La Entrevista, Quito 1993.