QUEM MATOU JESUS?

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Outra entrevista da polêmica série Outro Deus é Possível.

RAQUEL Sexta-feira Santa em Jerusalém. A Via Dolorosa inundada de penitentes, homens carregando cruzes, mulheres de joelhos rezando o rosário, batendo no peito, evocando aqueles dias da paixão e morte. Especialmente para você, Jesus Cristo, devem ser terríveis recordações.

JESUS Tantas, que prefiro esquecer. Minha mãe foi a que ficou com a pior parte. Madalena, as mulheres, João, os do movimento… para todos foi como se o mundo tivesse acabado.

RAQUEL Compreendo que não queira recordar os fatos sangrentos daquela sexta-feira…

JESUS Tire-me uma dúvida, Raquel. Vejo cruzes por todas as partes. Nas igrejas, nos altares, em suas casas colocam cruzes e até no pescoço as penduram.

RAQUEL É em sua memória.

JESUS Que estranha maneira de recordar… Porque se apunhalam ao teu irmão, levaria um punhal no pescoço? A cruz é um instrumento de tortura. Melhor, esquecê-la.

RAQUEL Mas essa cruz é sagrada. Morrendo nela, você estava cumprindo
a vontade de Deus.

JESUS Nessa cruz eu estava cumprindo a vontade do governador romano Pôncio Pilatos, a do sumo sacerdote Caifás e a de todos os que se opunham ao Reino de Deus.

RAQUEL Mas, Pilatos e Caifás não foram instrumentos nas mãos de Deus para que se cumprisse sua divina vontade?

JESUS O que está dizendo, Raquel? Qual era essa divina vontade?

RAQUEL Que você morresse na cruz. Isso era o que Deus queria, não é?

JESUS Como Deus ia querer que me torturassem? Percebe o que você está dizendo?

RAQUEL O que Deus queria, então?

JESUS Que eu continuasse anunciando seu Reino.

RAQUEL Você não tinha a missão de morrer na cruz?

JESUS Como poderia ter essa missão? As coisas foram como foram. Depois de expulsar os mercadores do Templo, estavam nos procurando por todas as partes. Tentamos escapar para Galiléia mas, já sabe, no horto de Getsêmani me prenderam.

RAQUEL Neste horto onde você se resignou a beber o cálice da dor até a última gota.

JESUS Eu não me resignei a nada, Raquel. Eu rezava: Que não se faça a vontade deles, os que querem matar-me, mas a tua, Pai, que quer que eu viva.

RAQUEL No filme de Mel Gibson, A Paixão, você aparece abraçando a cruz, desejando carregá-la, parece impaciente para que o preguem nela…

JESUS Não sei quem é esse senhor que você disse, mas não gostaria de tê-lo como amigo. Quem vai querer ser torturado, pregado em dois paus? Eu tentei escapar, tentei evitar a cruz, como te disse, mas a situação tinha ido longe demais.

RAQUEL Se entendi bem, você não queria morrer?

JESUS E quem quer morrer, Raquel?

RAQUEL Deus também não queria sua morte?

RAQUEL Deus?… Deus sempre quer a vida.

RAQUEL E Judas? Porque já estava escrito que Judas o iria trair.

JESUS Nada estava escrito. O que aconteceu aqui em Jerusalém naquela sexta-feira não estava escrito em nenhum livro.

RAQUEL Você não sabia o final? Não sabia o que ia acontecer depois, no terceiro dia?

JESUS Eu sabia naquele momento e sei agora que os injustos nunca riem por último. Que a morte nunca tem a última palavra. Deus a cumpriu em mim. E, como pode ver, estou aqui, falando contigo.

RAQUEL Pois… pois nós cumprimos com vocês e despedimos por hoje da transmissão. Desde Jerusalém, Raquel Pérez, Emissoras Latinas.

BIBLIOGRAFÍA
Otro Dios es Posible, www.emisoraslatinas.net/guia.php?id=181083