BREVE HISTÓRIA DO DINHEIRO (e 9)

Radioclip en texto sin audio grabado.

O maior roubo na história da humanidade.

EFECTO SINAL DE INFORME

LOCUTOR Depois de intensas negociações, o Congresso dos Estados Unidos aprovou um plano histórico para salvar o sistema financeiro deste país. O Presidente George W. Bush disse estar muito contente por esta decisão que estabiliza os mercados e assegura novos créditos para as empresas e para que o povo continue comprando e comprando e viva endividado.

EFECTO SINAL DE INFORME

BANQUEIRO (APLAUDE) Finalmente, finalmente!… Estamos salvados!

NARRADORA Vejo que o senhor está eufórico, senhor banqueiro…

BANQUEIRO E como não poderia estar, senhora jornalista O presidente Bush teve compaixão de nós… O governo vai nos dar uma ajudinha para superar a crise.

MULHER E de quanto é a “ajudinha”, a gente pode saber?

BANQUEIRO Digamos, senhora, que é uma quantidade razoável…

NARRADORA A senhora perguntou em números, não opiniões.

BANQUEIRO Bom… aprovaram 700.

NARRADORA 700… o quê?

BANQUEIRO 700 bi.

NARRADORA 700 bi… de quê?

BANQUEIRO 700 bilhões de dólares.

MULHER O senhor disse quanto?

BANQUEIRO É uma quantidade alta, reconheço, mas… indispensável.

NARRADORA 700 bilhões de dólares para salvar bancos e banqueiros. Se forrassem o chão com as notas, daria para embrulhar o planeta inteiro.

MULHER E de onde vai sair essa bilhonada de dólares?

BANQUEIRO Bom, é dinheiro público…

NARRADORA Se é dinheiro público, procede dos contribuintes.

BANQUEIRO Poderíamos dizer que sim.

MULHER Um momento, um momento, deixa ver se eu entendi. O senhor banqueiro está me dizendo que o governo de Bush vai tirar esse dinheiro do bolso do povo norte-americano?

BANQUEIRO Pois… pois sim.

MULHER Ou seja, que os senhores primeiro nos esfolam, nos estrangulam, provocam este desastre… e nós, com nossos impostos, temos que salvar os senhores?

BANQUEIRO É a melhor solução, senhora. Do contrário, a economia mundial se afundaria.

MULHER Se afundariam os senhores, seus sem-vergonhas…

BANQUEIRO Não se exalte, senhora, pode lhe dar uma embolia…

MULHER Era só o que me faltava, os pobres pagam os pratos quebrados da festa dos ricos!

BANQUEIRO Mas não se preocupe tanto, senhora. A senhora nem vai saber desse dinheiro. Porque, aqui, confidencialmente, essas cédulas, novinhas, com cheiro de tinta fresca, saíram da maquininha mágica que fabrica dólares…

MULHER Mas isso é um roubo ao povo norte-americano e uma sacanagem com todo mundo!

BANQUEIRO Tecnicamente, senhora, se chama “salvação bancária”.

MULHER Salvação? O maior roubo já registrado na história da humanidade.

BANQUEIRO Enfim, eu vou embora, tenho que ir agradece ao presidente Bush…

CONTROLE GOLPE MUSICAL

HOMEM Não, não, o senhor não vai embora sem antes responder a uma pergunta.

BANQUEIRO Vejamos, amigo, qual será a pergunta?

HOMEM O senhor é neoliberal, não é?

BANQUEIRO Mas é claro.

HOMEM E os senhores, os neoliberais, não diziam que o mercado se regula sozinhos, que o Estado não tem que se meter a controlar o mercado?

BANQUEIRO Amigo, vou ser sincero. A doutrina neoliberal se resume no seguinte: Quando o negócio vai bem, eu cobro. E quando vai mal, você paga.

HOMEM Ou seja, que…

BANQUEIRO Ou seja, que no neoliberalismo privatizamos os lucros e socializamos as perdas. (RISOS) E sabe o que mais? Bye, bye…

NARRADORA Nessa longa e complexa história do dinheiro que hoje chega ao
fim, me vem à mente a lúcida frase do poeta revolucionário Bertolt Brecht:

BRECHT O delito de roubar um banco não é nada comparado com o
fato de fundá-lo.

BIBLIOGRAFÍA
Juan Torres López
http://www.attacmadrid.org/d/10/081007183805.php