OS MULHERENGOS (2)
Muchos mulherengos foram meninos violados que tentam resolver dessa maneira seu conflito emocional.
LOCUTOR A continuação, nosso habitual espaçio “O consultório sexual da doutora Miralles”.
CONTROL CARACTERÍSTICA CONSULTORIO
DOUTORA Amigas, amigos, como estão? Bem? Eu também, ainda que lhes direi que desde o programa anterior me têm saturada a linha telefônica… Sobre tudo, os homens… Chamam e chamam… Como disse que os mulherengos eram “impotentes afetivos”… Quanto ouvem “impotência”, alguns se alvoroçam… Pois preparem-se, porque hoje direi uma coisa mais tremenda ainda. Mas antes…
CONTROL MÚSICA DRAMÁTICA
HOMEM Venha… Não tenhas medo, mocinho…
MENINO Não quero, não quero que me toque!…
HOMEM Comporte-se bem e brinques comigo que ganhará balinhas…
MENINO Não quero…
HOMEM (AMEAÇA) Fará o que eu te digo… E cuidado, não fales para ninguém… Venha cá… Tire as calças…
CONTROL MÚSICA DRAMÁTICA
DOUTORA Amigas, amigos. Estamos falando dos mulherengos. E vocês se perguntarão, que relação tem a cena terrível que acabamos de escutar com este tipo de homens?
EFEITO TELEFONE
MULHER 1 Alô?… Doutora Miralles?
DOUTORA Sim, diga-me.
MULHER 1 Eu não sei que relação terá, mas eu penso que essas coisas não se devem dizer pela rádio… Os meninos escutam e…
DOUTORA Isso é o que queremos, senhora, que escutem. Que abram os ouvidos e os olhos e não se deixemn enganar.
MULHER 1 Mas esses casos, doutora, não sei… se não acontecerá um entre cem mil…
DOUTORA Oxalá tivesse você razão, minha amiga. Mas, lamentavelmente, as estatísticas mostram, cada vez mais, que a violação de menores e o incesto, é uma tragédia demasiada frequente em nossos lares.
MULHER 1 Tal vez nos lares dos pobres…
DOUTORA Em todos os lares, senhora, em todas as classes sociais. Ricos, pobres, classe média… E o abuso sexual se comete contra meninas e contra meninos quase na mesma proporção.
MULHER 1 Você tem dados disso que está dizendo?
DOUTORA Ninguém tem os dados exatos, porque é um segredo muito bem guardado. As vítimas têm medo e não falam. A família tem vergonha e tão pouco fala. Ninguém fala, mas as cifras são terríveis. Um de cada cinco, um de cada três…
EFEITO TELEFONE
DOUTORA Alô, sim?
HOMEM Verá, doutora, eu tenho um primo que foi… que foi abusado quando era criança. Ele me contou muitos anos depois. O padrastro lhe pedia que o masturbasse… umas coisas muito feias…
DOUTORA E o que faz teu primo agora, como vive?
HOMEM Bom, ele já é velho… Se te conto, nem vai acreditar. É o mais mulherengo do bairro…
DOUTORA É que assim ocorre. Esses meninos que foram abusados, crescem com um trauma terrível porque, além de tudo, muitos os convenceram que eram homosexuais. Então, quando ficam mais velhos, como vão demonstrar, a eles mesmos e aos outros, que não o são? Tendo muitas mulheres.
EFEITO TELEFONE
MULHER 2 Doutora Miralles?
DOUTORA Sim, diga-me.
MULHER 2 Doutora, se eu lhe entendo bem, você disse que todos os mulherengos foram abusados quando criançass…
DOUTORA Não, não tente me enrolar. Escute bem. Eu digo e o disse qualquer psicólogo, que muitos homens mulherengos sofreram abuso, se viam a si mesmos como homosexuais, ou lhes disseram que o eram, e agora tratam de demonstrar o contrário.
MULHER 2 Mas há outros, doutora…
DOUTORA Há outros que são mulherengos pelo mal exemplo de sua casa, o machismo do pai. E da mãe. Outros são mulherengos para superar seus complexos, sua baixa auto-estima… Em todos os casos, o remédio é pior que a enfermidade.
MULHER 2 Por que diz você isso, doutora?
DOUTORA Porque a sede não se cura bebendo água do mar. O sexo sem amor (e isso é o que faz um mulherengo) é como beber água salgada. Quanto mais bebe, mais sede se tem, e não se satisfaz nunca. Como lhes dizia, são impotentes afetivos.
MULHER 2 Doutora… e o que lhes aconselharia você, então, a tantos mulherengos que anda solto por aí?
DOUTORA Aos homens que me estejam escutando agora e que tenham sido abusados quando crianças, lhes recomendo que façam uma terapia com psicólogo. De verdade, peçam ajuda profissional. E aos outros, aos machistas de montão… que continuem escutando este consultório! Até a próxima, amigas e amigos!
Carlos Eduardo Garita Arce, La construcción de las masculinidades, San José
2001
http://www.binasss.sa.cr/adolescencia/masculinidades/JOB01.html