PERIGOS AO ASSÉDIO (5)

Radioclip en texto sin audio grabado.

Se mantemos o coração limpo em meio à corrupção que nos rodeia, nos graduaremos como jornalistas de intermediação.

Acusações, careação com autoridades, problemas por resolver… O jornalismo de intermediação é um ofício difícil e de alto risco. Os seguintes perigos rondam a quem conduz este tipo de programas:

* FOFOCAS

Para evitar que nos vendam gato por lebre e fofocas por denúncia, devemos tomar algumas precauções. Por exemplo, não aceitar reclamações graves por telefone, senão pedir que venham à rádio. Comprovar, e até fotocopiar, as cédulas de identidade. Verificar dados, assessorar-nos e filtrar os casos que não qualifiquem como necessidades cidadãs.

* BENEFICÊNCIA PÚBLICA

Não se trata de converter a emissora numa casa de caridade pública. Podemos receber casos individuais, mas seria melhor se os propomos como necessidades coletivas. Se uma senhora denuncia que foi roubada pela Telefônica, há que convidar a outros ouvintes com situações idênticas para ter maior clareza.

* SUBSTITUIÇÃO DO ESTADO

Os meios de comunicação são tribunas, não tribunais. Não é a emissora a que resolverá os problemas, senão a possibilitar sua solução. Para isso está o Estado e não pretendemos substituir suas instituições. Não nos corresponde dizer quem tem a culpa nem muito menos sentenciar.

* SUBSTITUIÇÃO DA CIDADANIA

As autoridades devem comprometer-se e cumprir. E as comunidades devem comprometer-se e participar. À emissora lhe toca recordar ambos compromissos. Ao Estado exigindo e dando machadada. Porque não é questão de desfrutar meus direitos, senão também de assumir minhas responsabilidades. Exijo uma cidade limpa? Pois não suje e pague seus impostos.

* DIVINA PROVIDÊNCIA

Se a rádio contribui para resolver um caso, se apresentarão vinte. Se um bairro conseguiu o poço artesiano graças à pressão do programa, os dirigentes farão fila frente à porta da emissora. E como não podemos virar as costas para todos os problemas da comunidade, toca priorizar aqueles que estão ao nosso alcance.

* POLITICAGEM

Alguns condutores e condutoras usam os programas de intermediação como trampolim para conseguir cargos públicos. Você quer ser candidato? Fantástico. Renuncie à rádio e vá com sua campanha a outra parte. A rádio, que é pluralista, não pode casar-se com um partido, que é proselitista.

* CORRUPÇÃO

Fazendo jornalismo de intermediação ferimos interesses econômicos. Que preço tem este locutor insolente, quanto há que pagar a essa atrevida para que se cale? Primeiro serão ameaças, logo chantagens, logo prebendas. Nos oferecerão dinheiro em troca do silêncio, nos oferecerão dinheiro para mentir. Nos tentarão corromper. Mas a consciência, como o carinho verdadeiro, não se compra nem se vende.

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Se sorteamos estes perigos, se mantemos o coração limpo em meio à corrupção que nos cerca, nos graduaremos como jornalistas de intermediação. Felicitações por anticipado!