TERRORISTAS NO LÍBANO
Até que possamos dizer basta, ou até que nos tirem os cachorros a nós.
Estão passando pela televisão imagens de terroristas mortos no Líbano.
Um tem a estatura de Felipe, meu filho de cinco anos. O outro já é bem mais como Rafinha, que tem oito. Há vários outros.
Estão apinhadinhos como brincando às escondidas ou como si acabaram de roubar-lhe frutas da vizinha.
Não são tão bravos, acredite. Os jovens meninos como Rafinha, Felipe ou todos eles, somente pode-se dizer que vêm muito descusturadores de calças e meio surdos quando alguém os convida para um banho. Apenas assim são os de casa, os do Líbano, Bolívia… o mesmo em todas as partes com estes guris!
Por ser jovens são duas coisas juntas: o que é e o que vêem. Isto é, são os que agora descusturam calças jogando bolinha e também são os que com suas perguntas lhe dão corda ao mundo.
É boníssimo rir-se com eles.
Si um faz silêncio, pode escutar o ruído que metem quando crescem. Isso si, nunca mas nunca há que tirar-lhes com mísseis, porque morrem. E aí sim que ficamos sem ruídos, nem futuro.
O mais jovenzinho dos “terroristas” assassinados, ficou com a mãozinha assim. Uma maneira singular que têm os meninos dessa idade para acompanhar uma pergunta.
Agora fala o papai, diz que ele não pertence ao Hizbollah, que até agora só simpatizou com eles mas que neste momento, está pronto para ser.
Quando éramos meninos, si criticassem a mãe isso era um limite, com a velha não se metas!, saltávamos enseguida ainda que a nossa mãe na realidade a negácessemos o tempo todo. Isso passava em meu bairro e creio em toda parte. Depois alguém cresce, tem filhos, (eu tenho seis) e entende que nossa mãe na realidade sabe defender-se só, (somente que se faz a mimosa) e que com os que não há que se meter, é com os meninos.
Num mundo são, os grandes devemos cuidar das crianças. Todos os adultos, a todos as crianças.
Que diferença tem você ou eu, com o pai dos guris que morreram com uma pergunta na mão?
Se meteram com os meninos e esse pai agora está pronto para tornar-se terrorista, mas sério. Eu também tenho vontade, que quero que lhe diga. E não se vai pensar que sou muito valente ou camorrero, somente que o ruído que mete o silêncio desses meninos mortos se parece muito a uma pergunta, como a que fazem seus irmãozinhos. Pergunta que a eles não podemos responder mas que sim devemos responder. Nós. Os demais. Os que o vemos por televisão. Contemporâneos deste tempo vergonhoso em que em nome de papéis ou o dinheiro, os poderosos chumbam morte com seus paus de golf e os demais nos fazemos a um latido para que passem os cachorros.
Até que possamos dizer basta, ou até que nos tirem os cachorros a nós.
El texto es del poeta y escritor argentino Rafael Urretabizcaya.
La lectura, de Jorge Gorostiza.